Da Grandeza

Devia começar a escrever uma tese sobre o talento. Já são algumas vezes que o refiro aqui, porque acredito que a alguns seres humanos lhes é dada uma característica única: a capacidade de descobrirem e trabalharem um dom. São predestinados. Os outros, os que ainda não descobriram esse gene, têm o privilégio de o admirar, de o contemplar, de o celebrar num outro indivíduo, abnegadamente, se o mal da inveja não os atraiçoar.

Celebremos, pois, o talento de um actor português que, quando eu pensava que já não podia ser mais genial, ele surpreende-me com uma interpretação ou uma criação épica. Falo do Grande – literalmente – Bruno Nogueira.

Parece que ainda o estou a ver a apresentar o Curto-Circuito, na SIC Radical, magrinho, de poucos sorrisos, mas já com a capacidade de provocar lágrimas. De riso, no público fiel que o seguia e que, quando não podia ver as três horas em directo do programa juvenil, gravava, para poder ver depois (#quemnunca); ou uma mono-lágrima, nele próprio, quando a produção do programa punha a tocar a música “Kanimambo”, de João Maria Tudela. Pensar que aquela pessoa que fazia bullying (tudo brincadeirinha, atenção!) ao Fernando Alvim e que fez das mais hilariantes reportagens nos campismos dos Festivais de Verão, hoje cria séries de culto – se não viram a série “Sara”, na RTP2, não merecem o ar que respiram, por isso devolvam a minha quota-parte de oxigénio! – ou programas que ainda hoje deixam saudades porque foram muito à frente do seu tempo (suspiro pelo “Último a Sair”).

Uma pessoa que, no início do ano, se sentou à mesa no palco do Coliseu dos Recreios com outros dois génios loucos e juntos conceberam dilemas que nos fazem pensar “Como é que é possível aquelas mentes terem pensado isto?!” ao mesmo tempo que nos rimos de nervoso e aflição, especialmente com a roleta russa usada na aplicação dos contactos dos telemóveis dos protagonistas, é a mesma que conseguiu convencer uma direção de programas de um canal de televisão de que estar sentado, simplesmente, à conversa com o Mestre Miguel Esteves Cardoso, quase sem guião, era um bom programa para o prime-time. E era. E foi. Foi muito bom!

Ainda há quem o veja como o rapaz que apelidou Francisco Pinto Balsemão de “o senhor do bolo” numa qualquer gala de aniversário da SIC, mas ele é muito mais do que isso. Depois do Medo, o stand-up voltou a fazer parte da vida de Bruno Nogueira e entre o final do ano passado e o início deste, esgotou todas as datas em várias salas do país. Deixou a sua Lisboa para o final do ano, mas nem por isso lhe falhou: o Teatro Nacional D. Maria II vai albergar, pela primeira vez na sua história, um espetáculo de stand-up comedy. E, por falar em Teatro Nacional, foi neste majestoso teatro que ontem, dia 27 de Junho de 2019, vi um Bruno diferente. Um Bruno que de cómico tinha muito pouco. Um Bruno como Gorge Mastromas, o protagonista de uma peça que leva o público a debater-se com dilemas, estes bem mais sérios. A moralidade, a bondade, a cobardia, tudo é questionado e personificado naquele homem, brilhantemente interpretando pelo Actor Bruno Nogueira. Sim, com letra grande, como ele. Porque é de grandeza que se fala. E da grandeza que é saber mudar de registos de forma sublime, sem que isso impacte no público. Da enormidade que é desfigurar-se. O Bruno que cresceu comigo, que me acompanhou nas minhas tardes de escola, que me guiava pelos festivais quando eu ainda não podia ir, que é um dos percursores do stand-up comedy em Portugal, transformou-se e estava irreconhecível. Aquele olhar intenso, por cima da linha do horizonte do globo ocular, é algo só ao alcance dos predestinados, dos Maiores!

E as referências à altura continuam: se achávamos que a sala do Teatro Nacional D. Maria II era “demasiado pequena”, Bruno, do alto da sua grandiosidade, atirou-se a mais um feito: o primeiro espetáculo de stand-up comedy executado por um comediante português vai ter a mais imponente sala de espetáculos do país como palco maior. Depois do Medo, a glória, o reconhecimento, o respeito, a admiração: és Grande, Bruno!

Nota sobre a autora

Olá, o meu nome é Tatiana Mota e passei ao lado de uma grande carreira na TV e na rádio. Como podem, aliás, ver neste vídeo de 35 segundos que realizei para um passatempo, e onde se denota grande talento de atriz (cof… cof…).

Para além disso, e para não passar ao lado de uma grande carreira na escrita, tenho vindo a desenvolver esse skill não só em publicações de informação cultural, como a LeCool Lisboa, mas também na nouvelle plataforma Reveal Portugal , sem contar também que sou foodie na Zomato.

Se tenho Instagram e Facebook? Claro que sim: no Insta – como dizem os jovens – e na xafarica do Sr. Zuckerberg, estou como sou, sem maquilhagem, em Alta Definição.

Atualmente, não tenho blog – mas já tive – e influencer, só se for a influenciar os filhos das minhas amigas a serem do Benfica. Penso estar a fazer um bom trabalho nesse sentido.

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2 comentários em “Da Grandeza

  1. A Tatiana não passou ao lado de nada. A Tatiana está perfeitamente enquadrada neste segmento super engraçado é inteligente, que oferece ao leitores uma resenha de cada personagem. Apresenta com estilo aberto, sem convenções, e alegre. Muito bom! Parabéns!

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