Da Fofura: Jojo Rabbit

Se perguntarem a alguém qual o período da História recente da Humanidade mais hediondo e abominável, a maior parte dirá a II Guerra Mundial. Qualquer bípede racional, minimamente sensível, equilibrado e estruturado será capaz de dizer que aquilo que um ser da sua própria espécie foi capaz de pensar e executar foi absolutamente desumano. Foi monstruoso, inacreditável e impensavelmente cruel.

Mas quando esse ser, em 2020, é interpretado por Taika Waititi (realizador e argumentista neo-zelandês do aclamado filme de 2019 Jojo Rabbit), surgindo como amigo imaginário de um jovem recruta da Juventude Hitleriana com ambições de chegar à sua Guarda Pessoal, quase nos esquecemos das atrocidades perpetradas pelo Führer. Sublinho o quase, porque é importante não nos esquecermos para que não se volte a repetir.

Retirar a melhor parte de situações adversas ou saber brincar com assuntos sérios só está ao alcance de pessoas com inteligência e sensibilidade acima da média. E Taika soube fazer isso magistralmente. A história do pequeno Johannes tem como pano de fundo a II Guerra Mundial e o próprio jovem assume-se como um defensor dos ideais advogados pelo seu “amigo imaginário”. Mas essas crenças acabam por ir para segundo plano, quando acidentalmente, no quarto da falecida irmã, encontra uma jovem judia escondida numa parede falsa, ajudada pela própria mãe. No início, era o ódio. Mas do ódio ao amor, vai uma curta distância. Ás vezes, só uma parede. Com a desculpa de estar a escrever um livro para saber mais sobre o povo judeu – é até caricato perceber como eram retratados na altura, com chifres à laia de demónios! – o pequeno e a “inimiga” começam a passar muito tempo juntos. Ela fala-lhe do seu povo mas também lhe fala de um namorado, com quem prometeu casar nas margens do Sena. Para apaziguar a dor da rapariga, Jojo começa a “escrever” cartas na pele do noivo prometido da sua apaixonada. O pré-adolescente Jojo é, assim, apresentado ao Amor, algo que a jovem judia já conhecia e pelo qual suspirava. E se o pequeno acaba por desenvolver um sentimento romântico pela amiga, o mesmo é apenas correspondido na medida fraterna. E Jojo, para além do amor, acaba por descobrir uma verdade universal, tão verdade em 1945 como em 2020: todos diferentes, todos iguais.

Amor adolescente, amor fraterno, o primeiro desgosto de amor e, sobretudo, Amizade e Igualdade. Se conseguimos retirar isto num filme que tem como cenário uma das épocas mais negras da história da Humanidade? Claro que sim. Essa foi a sensibilidade e a técnica impecável de Taika Waititi ao fazer um filme super-fofo que parodia uma das personagens mais execráveis de sempre. Foi dizer “eu consigo brincar com isto sem chocar nem ofender ninguém” Sim, é possível. Foi encontrar o raio de luz no meio do caos. Isso é um diário de Anne Frank. Isso é o copo meio-cheio. Isso é o riso de uma criança para abafar o som das bombas. Isso é dançar no meio da rua ao som de “Heroes” de David Bowie, cantado em alemão. Porque quando nos sentimos livres, dançamos. Ou rimos. Ou fazemos as duas coisas aos mesmo tempo. Isso é melhor da vida!

Nota sobre a autora

Olá, o meu nome é Tatiana Mota e passei ao lado de uma grande carreira na TV e na rádio. Como podem, aliás, ver neste vídeo de 35 segundos que realizei para um passatempo, e onde se denota grande talento de atriz (cof… cof…).

Para além disso, e para não passar ao lado de uma grande carreira na escrita, tenho vindo a desenvolver esse skill não só em publicações de informação cultural, como a LeCool Lisboa, mas também na nouvelle plataforma Reveal Portugal , sem contar também que sou foodie na Zomato.

Se tenho Instagram e Facebook? Claro que sim: no Insta – como dizem os jovens – e na xafarica do Sr. Zuckerberg, estou como sou, sem maquilhagem, em Alta Definição.

Atualmente, não tenho blog – mas já tive – e influencer, só se for a influenciar os filhos das minhas amigas a serem do Benfica. Penso estar a fazer um bom trabalho nesse sentido.

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