Como sobreviver a uma road trip em Marrocos (parte II)

Fez

Fez, conhecida como a cidade espiritual, é considerada como a capital cultural e religiosa de Marrocos, é património mundial e uma das cidades destino de peregrinações islâmicas. Não é tão turística como Marraquexe, mas para quem está interessado em belos mercados, espetáculos, passeios mais calmos pela medina, mais vale ficarem-se só por Marraquexe. Fez é tudo aquilo que Marraquexe já (quase) deixou de ser: peculiar, característica, tradicional, suja, pobre, linda de uma forma um pouco decadente, autêntica. Há Riads muito boas em Fez, nós ficámos em duas e não saímos desiludidos. O fundamental, para escolherem alojamento na medina, é selecionarem uma Riad ou Dar que fique junto a uma das entradas na medina e que tenha indicação de estacionamento próximo (leiam os comentários de utilizadores, são muito úteis).

Riad Soleil D’or é muito bonita (a mais bonita que vimos em Fez) e muito acolhedora. Tem piscina, a zona de lounge tem bom wi-fi (já nos quartos, não se consegue quase ter rede) e é fresca (dentro do possível quando estão 45 graus na rua). Os quartos são lindos, espaçosos, mas muito quentes (têm que manter o ar condicionado a funcionar durante a noite, nem que seja no mínimo). O pequeno-almoço não tem muita variedade, mas é bom. Tem um estacionamento muito perto (no cimo da rua, a 200 metros), com vigilância até às 22h, que custa 20 dirhams por dia.

A Dar Fes Tresor é muito bonita também, mas não tão opulenta como a Riad. Os quartos são bons, mas também muito quentes no verão (manter o ar condicionado ligado, sempre!). Não tem piscina, mas os anfitriões são muito simpáticos e prestáveis. A grande vantagem comparativa é o estacionamento à porta (mesmo), que custa também 20 dirhams por dia. Também não se apanha wi-fi nos quartos dos pisos superiores.

No que toca à medina, valem para Fez todos os avisos que deixei para Marraquexe, mais alguns:

 – Peçam conselhos sobre as zonas seguras da medina à/ao vossa/o anfitriã/o da Riad ou Dar e acreditem nos que vos disserem.

 – Não é totalmente seguro circular na medina à noite, principalmente se ainda não circularam de dia e não conhecem bem as zonas.

 – A medina de Fez é muito mais confusa do que a de Marraquexe. Ou levam o google maps convosco, com um passeio previamente programado, ou mais vale contratarem um guia (podem pedir na Riad) para terem uma boa experiência. Se andarem sem guia, vão ter de se defender dos pretendentes a guia o tempo inteiro, pode ser cansativo.

 – Não comam na medina de Fez. Ao contrário de Marraquexe (a foto ao lado é de um balcão de doces na medina de Marraquexe, cheio de abelhas, inofensivas, e podia comer-se à vontade; em Fez, o problema é mesmo a falta de higiene, face aos padrões europeus, e má qualidade da água), os restaurantes da medina de Fez não são aconselhados para turistas (não liguem às avaliações do Tripadvisor) e correm o risco de ficarem com um sério desarranjo intestinal…

 – Tentem não dar muitas festinhas aos gatos, têm pulgas… Ou, esqueçam, deem festinhas, há pulgas em todo o lado. É pitoresco e faz parte do encanto.

 – Vão pagar 20 dirhmans por pessoa para visitarem as “Tanneries Chouara”, mas vale a pena (não é roubo, como acontece em Marraquexe), pois recebem um guia que vos conta a história das “tanneries” e explica o processo, têm acesso ao terraço da cooperativa e a vista é muito bonita. Vão visitar a loja, mas ninguém vos vai pressionar para comprar.

O passeio mais bonito que fizemos na medina de Fez inicia-se na porta azul (Bab Bou Jeloud) e segue o caminho para a Universidade al Quaraouiyine, (a universidade mais antiga do mundo, que conta com uma mesquita, e que só se pode ver por fora). Na volta, se seguirem o caminho da Zaouia de Moulay Idriss (também só se pode ver por fora), podem passar pelas Tanneries Chouara, num ligeiro desvio antes da Zaouia. É uma passeio a pé que pode durar 1 hora, se não parerem em muitas lojas, ou 3 horas, se forem com mais calma e fizerem muitas paragens. Deixo-vos o link para a programação do passeio no google maps e as fotos mais expressivas do percurso.

A melhor experiência gastronómica que tivemos em Marrocos foi em Fez, nos restaurantes do Hotel Sahrai. É um hotel de luxo, de 5 estrelas, e vale cada átomo das suas estrelas e mais algum. Os dois jantares que lá fizemos foram um bálsamo após as longas viagens e os 45 graus de Fez. Na primeira noite jantámos no restaurante marroquino e libanês, o Amaraz, e foi uma das melhores refeições que já fizemos (a qualidade rivaliza com os bons restaurantes gregos, os que existem na Grécia, mesmo). Na nossa última noite em Marrocos, porque estávamos com saudades de comida “normal”, experimentámos o Relais-de-Paris, e valeu a pena (dos melhores hambúrgueres que já comi, experiências dos Estados Unidos incluídas). Se quiserem visitar Fez com estilo e ficar num oásis com uma vista magnífica sobre a cidade espiritual, é este o sítio. Infelizmente, já tínhamos as Riads reservadas sem possibilidade de cancelamento, e nem sequer perguntámos o custo dos quartos. Não deve ser barato.

 

Saïdia

Depois de tanta agitação, merecíamos passar uns dias sem fazer nada, absolutamente nada e é para isso mesmo que serve Saïdia. É uma estância balnear e para lá dos banhos há… Nada para fazer. Basicamente, consiste numa longa extensão de areia (mais escura do que a nossa) banhada por um pacífico mediterrâneo a 25 graus (temperatura da água em agosto) e polvilhada de resorts. É preferível ficar num resort de 5 estrelas, pois os padrões são mais baixos do que os europeus, e é aconselhável o regime all inclusive, pois é provável que não haja nada para comer há volta do resort. Os resorts são todos parecidos, mas como reservámos em cima da hora, não tivemos grandes opções e ficámos numa suite especial (era a única disponível) do Mélia Beach Hotel Saïdia. Por isso, tivemos direito a tratamento VIP no resort: receção e acompanhamento pessoal no check in e check out, piscina privada, toalhas de praia sem depósito, bar privado. Tenham em mente que a minha avaliação do espaço pode ser distinta da experiência obtida por quem faça um pacote normal.

De um modo geral, o resort não corresponde completamente ao esperado de um 5 estrelas europeu. A nossa suite era boa, e as comodidades VIP muito úteis para fugir à confusão. O resort é bonito, mas a comida deixa muito a desejar (é relativamente normal quando se tem de fazer comida para mil pessoas, mas mesmo assim…). As grandes vantagens do Mélia Beach face a outros resorts (mesmo o Mélia Garden) é a localização. O resort está relativamente isolado e suficientemente perto da marina para ir a pé (a marina é a zona onde encontram a farmácia, um minimercado, os bancos, etc.). Porque não está na zona balnear central, é muito sossegado. Mais, tem uma praia privativa mesmo em frente, por isso podem ficar numa espreguiçadeira à beira-mar a ver o por-do-sol. Outro aspeto muito positivo é a simpatia do staff e a qualidade da água nas três piscinas (grandes e muito calmas, pois são mais do que suficientes para a lotação).

Não há mesmo muito para fazer em Saïdia. Podem experimentar as “bolas de berlim” (versão marroquina) que se vendem na praia (o preço é igual ao nosso), ou mesmo o chá de menta, se gostarem de bebidas quentes em agosto… Ou podem ir dar um passeio de camelo (são dromedários, na verdade) por 100 dirhmans por pessoa. Se gostarem do ambiente da praia da rocha em outubro (mas com noites quentes), podem ir dar uma volta à vila. Muitos bares e clubes, quase todos vazios, pois os marroquinos não dançam e os turistas ficam nos resorts. Só há uma coisa verdadeiramente perigosa Saïdia: melgas! Para não serem comidos vivos, prefiram quartos não térreos, levem raid e repelente.

A melhor parte de Saïdia é o bronze. Em três dias bronzeei-me tanto como em 15 dias intensos de sol e mar em Tavira. Bronze, água quente e descanso, é isso que se obtém em Saïdia.

 

5 Razões para ir (e voltar a ir) a Marrocos

E, por fim, se ainda não estão convencidos/as, aqui ficam as minhas razões para voltar a Marrocos:

Fica aqui tão perto…!

Somos quase irmãos… Quase. É impressionante como somos parecidos e como os marroquinos são uma representação viva e constante da nossa história.

É uma cidade cheia de cores, divertida, jovem, com muitas atividades culturais e noturnas por explorar.

O deserto. Voltarei de certeza para passar uma noite no deserto.

O mediterrâneo. Temperatura da água: 25 graus.

 

Nota sobre a autora

Inês Ferreira Leite

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