Chega de ter medo

Na fila para uma repartição pública debate-se o estado de uma nação. É lá que ouvimos as verdadeiras dores do povo. Que sentimos as ideologias que correm e o que faz sentido para os que estão todos os dias no terreno. É aí que ouvimos quem são os heróis e os vilões. É aí que percebemos que há assuntos que estão a anos luz de serem compreendidos em todos os seus ângulos. São assuntos que se polarizaram e disseminam na forma de chavões emitidos por um nicho cheio de certezas. A certeza dos outros retira-nos um fardo em cima.

A Humanidade evoluiu por causa do seu medo. A noite, momento de maior fragilidade para o homem, fez com que nos tivéssemos de nos munir de armas, de refúgios por forma a garantir a sobrevivência.

A necessidade de segurança está no nosso código genético. É por isso, que sempre que estamos a tremer por dentro, procuramos refúgio. Se for junto de alguém que tem certezas ficamos aliviados. As incertezas deixam-nos as pernas bambas!

 Mesmo conhecendo a verdade à la Palice de que as escadas apenas têm o sentido ascendente e descendente, quando alguém grita alto, com pose da certeza, que há uma terceira direção, nós, acreditamos!

Essa terceira direção surge da ignorância, do medo que se instalou quando a escada tremeu. Quando isso acontece, deixa-se de lado a inteligência e o questionamento e ficamos vulneráveis, reféns da manipulação. A inteligência respeita o outro, trata o outro como igual. Já a manipulação usa o outro.

A manipulação não precisa de compreensão. Quem manipula usa um discurso sem “se” sem, “mas”. Um discurso certeiro, em prol do que a multidão quer ouvir. Um discurso em tom de megafone, com promessas que trazem esperança a quem está a tremer. É um ciclo: a multidão sussurra, e alguém grita alto, aquilo que a multidão quer, colocando-se na dianteira como um maquinista.

São novos tempos.

São tempos de transição.

Tempos de crise climática que trazem medidas novas, que obrigam os seres de hábitos a mudar de hábitos. Tempos em que invadir uma conta de mail é visto como um ato heróico e se pede que a justiça haja em conformidade com uma convicção do momento e não com base em princípios éticos, justos e igualitários. Tempos em que as fronteiras não passam de linhas desenhadas no chão, mas uns quantos, olham para elas e ficam cegos apostando todas as fichas na sua defesa.

Estamos a ficar cegos, porque se pede fanatismos, compromissos, posicionamentos, que se escolham lados. Quando na verdade a diferença sempre foi um fator positivo para a evolução. Que o medo não nos tolde a visão, pois a única certeza que podemos ter é que não há certezas absolutas!

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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