Carta ao meu Pai

Olá, Pai!

Sei que falamos todos os dias mas, como sabes, hoje é dia do Pai. Claro que é dia dos pai é todos os dias e blá-blá-blá, mas ambos sabemos que eu nunca te ia deixar sem um miminho.

Acreditas que já passou um ano e quase três meses desde que partiste? Tão pouco tempo e, no entanto, já tanta coisa aconteceu: o teu neto nasceu e é parecidíssimo contigo! Aliás, há dois dias já deu os primeiros passinhos! Foi um ano de muitas descobertas e de muita aprendizagem. Aprendemos a viver (novamente) com um ser tão pequeno, tão frágil e tão deliciosamente surpreendente.

Mas também aprendemos a viver com a tua ausência. Nunca nos habituamos. Mas conformamos-nos. Não há um único dia em que não pensemos em ti. Deve ser por isso que dizem que as pessoas nunca morrem. Porque elas estão sempre presentes, na nossa memória. Mas sabes, pai, nos últimos tempos tenho pensado ainda mais em ti e de como a vida é tão certa e sábia. Vivemos tempos estranhos. Tempos tão estranhos que neste ano e quase três meses, esta deverá ser a única altura em que penso “ainda bem que não estás cá”. Pelo menos, da forma que estarias como estiveste nos teus últimos tempos. Porque serias um alvo demasiado fácil para o inimigo. Sim, pai. Estou a falar como se estivesse na guerra. E estou…

Estamos a travar uma luta contra um inimigo global. Há quem diga que esta pode ser a Terceira Guerra Mundial, cuja batalha não é entre nações mas sim, da raça humana contra um… vírus. Um organismo apenas visível ao microscópio, mas tão letal como mil tanques!

Escrevo-te esta carta da minha casa onde já não saio há uma semana e é só ainda a primeira. Não estou fisicamente com os nossos, e, quando estou, tenho de manter uma distância segura, para que o inimigo não esteja à espreita, pronto a atacar. Como eu, estão milhões de pessoas, e quando eu digo milhões, são mesmo MILHÕES, porque o inimigo é global. Não escolhe raça, estrato social, idade, atravessa fronteiras á velocidade da luz….!

O que é que estamos a fazer para o derrotar? Estamos em casa. Sim, pai. A ajuda que podemos dar nesta guerra é… ficar em casa. Quem não tem formação na área da saúde, é chamado para… ficar em casa. E lavar as mãos. Acho que nunca lavei tanto as mãos como nos últimos tempos, mas guerra é guerra! Só? Se soubesses o quão difícil é dizer ás pessoas para estarem SÓ em casa… Se estivesses cá, ias adorar esta quarentena. Porque adoravas ficar só em casa. Não nos últimos tempos, porque ninguém gosta de estar SÓ fechado em casa. Mas como sempre foste muito caseiro, acho que não te ia ser difícil. Só não ias gostar de não haver futebol: suspenderam as ligas de futebol profissional todas, o Benfica estava a jogar mal mas ainda podia ser campeão e adiaram o Euro 2020 para o ano que vem! Agora, é que estás a ver a dimensão do bicho, não é?

Dizem que devemos ver sempre o copo meio cheio, que depois da tempestade vem a bonança e que devemos retirar o lado positivo das adversidades. Acredito que o que nos está acontecer servirá para nos ensinar alguma coisa. Provavelmente, o verdadeiro sentido da vida. O que é realmente importante e o que devemos genuinamente valorizar. O mundo, a humanidade, nada será a mesma depois disto. Depois do 11 de Setembro, creio que será o marco mundial que terá um Antes e um Depois: Antes do Coronavirus e Depois do Coronavirus. E isso tem de ter algum significado maior.

Afinal, acho que queria mesmo que estivesses cá… nem que fosse para dizer “Calma… vai ficar tudo bem”!

Nota sobre a autora

Olá, o meu nome é Tatiana Mota e passei ao lado de uma grande carreira na TV e na rádio. Como podem, aliás, ver neste vídeo de 35 segundos que realizei para um passatempo, e onde se denota grande talento de atriz (cof… cof…).

Para além disso, e para não passar ao lado de uma grande carreira na escrita, tenho vindo a desenvolver esse skill não só em publicações de informação cultural, como a LeCool Lisboa, mas também na nouvelle plataforma Reveal Portugal , sem contar também que sou foodie na Zomato.

Se tenho Instagram e Facebook? Claro que sim: no Insta – como dizem os jovens – e na xafarica do Sr. Zuckerberg, estou como sou, sem maquilhagem, em Alta Definição.

Atualmente, não tenho blog – mas já tive – e influencer, só se for a influenciar os filhos das minhas amigas a serem do Benfica. Penso estar a fazer um bom trabalho nesse sentido.

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3 comentários em “Carta ao meu Pai

  1. Querida Tatiana, que lindíssimo texto!!! Alem de muito bem escrito também é de uma sensibilidade extraordinária!!! Parabéns!!! Muitos beijos.

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