Carrossel maternal

 

Quando fui mãe pela primeira vez lembro-me do meu pai me ter dito: “Filha, a partir de agora, não haverá uma porta que bata que não te faça olhar para trás.”

Na altura, não percebi muito bem o que ele queria dizer, até a loucura do carrossel maternal começar.

Alguma mãe ou pai com filhos pequenos se lembra do que é usufruir de uma refeição sossegada?

Aposto que não.

Senta na cadeira, corta o bife, põe babete, entorna o copo, apanha o garfo, sopra que está quente, não quer ervilhas, mãe-o-mano-cuspiu-me-os-brócolos, mãe-o-mano-está-a-dar-o-peixe-ao-gato… pffffff cheira mal…

Ó filho, então tu vais fazer cocó à hora de jantar? Tira da cadeira, troca a fralda, a comida ficou fria, aquece no microondas…. E finalmente quando a mãe se senta a comer…

— Mãe! Bebé já papou tudo. Qué colo.

Ufa.

O que vale é que a hora do duche é sagrada.

Hã? É o quê?

Alguma mãe ou pai de filhos pequenos se lembra de tomar duche sossegada(o)? Que saudades tenho eu do tempo em que, de vez em quando, até se tomava um banhinho de espuma para relaxar… e os cremes? Ó vida boa e longínqua aquela que eu tinha, quando o tempo me chegava para, depois do banho, me untar com todo o tipo de hidratantes!

Agora?

Agora o duche é tomado com a porta da casa de banho aberta, um olho no burro, outro no cigano, a correr (só me falta ir para o duche de ténis), sempre a falar alto, para ver se naqueles minutos em que estou ali contida a criançada não me parte a casa toda (sim, porque não há nada mais assustador no duche do que saber que eles estão em casa e não se ouvir nada! Deus nos livre do silêncio!).

O que vale é que a hora da leitura é sagrada.

Hã??

Alguma mãe ou pai de filhos pequenos consegue ler, concentradamente durante mais de cinco minutos, qualquer coisa que não seja as instruções de um brinquedo ou a bula de um medicamento?

Ufa!

O problema é que quando eles riem a gargalhada ou nos abraçam de alegria tudo se esquece.

Ficamos ali, feitas parvas, a olhar para eles, para o espectáculo que é vê-los crescer e viver… e todas as dores, todo o cansaço, tudo se anula em função desse amor tão esmagador.

Alguma mãe ou pai sabe do que estou a falar?

Aposto que sim.

 

in “Deve Ser Isto O Amor”

Rita Ferro Rodrigues

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2 comentários em “Carrossel maternal

  1. Ser mãe é isto tudo e muito mais…é trabalhoso… Sim.. Mas muito compensador!!!
    Revejo me em cada palavra….
    Um beijinho Rita…

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