“Bird Box” e o “Ensaio Sobre A Cegueira”

“Bird Box” apresenta-se como um filme de terror sobre um Apocalipse que invade a terra. Aparentemente, surgem umas “criaturas” que conduzem a uma espécie de suicídios em massa. A única forma de sobreviver é não olhar para as “criaturas”, isto é, usando vendas. Este conceito não é novo, já vimos o uso da cegueira na Humanidade, na obra de José Saramago.

Hoje somos muito visuais. Basta ver o nosso quotidiano – ecrãs ao virar da esquina, nas nossas mãos… que retirarem-nos essa faculdade nos torna imponentes. Deixarmos de ver expõem-nos as vísceras. Não seremos nós, “cegos que vendo, não vêm”?

Em “Bird Box”, somos convidados a integrar o filme como personagens. Sabemos que as “criaturas” conduzem ao suicídio. Dá-nos a sensação que há um confronto com os nossos maiores medos. O que depreendemos é que, nesse confronto, fraquejamos e preferimos a morte.

“Bird Box” expõe assim a Humanidade às suas depressões. Veja-se que todas as personagens apresentavam dilemas: gravidezes indesejadas; nerd rejeitados; a morte recente da esposa, e a mulher com falta de amor próprio que faz de tudo para agradar os outros.

Também em “Ensaio Sobre A Cegueira” tocamos na vulnerabilidade Humana. A cegueira branca do livro mostra-nos um ser humano, que cego se despe das suas máscaras. Quando o volume de cegos aumenta na cidade, são todos fechados numa espécie de prisão. E nós, leitores, somos guiados pelos olhos da mulher do cego, que não estando cega nos mostra o que nós somos, o que somos capazes de fazer. Toca-nos na ferida, no nosso lado lunar. Toca na eterna questão: será que nós nascemos naturalmente bons e a sociedade nos corrompe, ou se somos naturalmente maus, e a sociedade nos vais polindo?

Explorar a cegueira da Humanidade é sempre uma forma de nos abrir os olhos, enquanto espectadores. Mostra a nossa natureza.

Em “Bird Box”, a natureza no seu estado puro está lá. São os pássaros que simbolizam os momentos felizes, as boas memórias que devem ser guardadas, para nos dar força nos nossos momentos críticos. É essa a nossa génese, as memórias que devemos cultivar para nos lembrarmos de quem somos, ou de quem não queremos voltar a ser. Em tempos como o nosso, onde o visual é uma constante, temos de nos lembrar da necessidade de olharmos para dentro. De cuidarmos do nosso interior, de saber qual a nossa essência e guardá-la na caixinha, para que possamos recorrer a ela quando descemos trilhos mais sinuosos.

Nota sobra a autora

O meu nome é Inês Pina.  

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária. 

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