Bebés viciados na mama? Nem pensar!

 

Desde o nascimento que o corpo da mulher vai se preparando para a amamentação. Apesar de ser um processo natural, ainda levanta muitas dúvidas e preocupações. A primeira decisão pertence à mulher e deve ser tomada  por ela sem pressões. É a mulher que deve decidir se deseja ou não amamentar o bebé desde o nascimento e tentar uma amamentação exclusiva. (Note-se que se entende por amamentação exclusiva quando o bebe só bebe leite materno ao peito).

A recomendação de Organizações de Saúde nacionais e internacionais(OMS), Direção geral de saúde (DGS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), recomendam aleitamento materno exclusivo por seis meses e complementado até os dois anos ou mais (Costa, et.al, 2013). Apesar destas recomendações, a escolha recairá sempre pela escolha dos pais e pelo desejo ou não da mãe em amamentar.

Apesar de  se tratar  de um  processo natural, todos os mitos e histórias associadas ao tema ajudam no aumento da insegurança do casal no que diz respeito à amamentação, desencorajando a prática. Um dos principais mitos relaciona-se com a frequência das mamadas: as tão famosas 3h/3h. “Mas será assim tão benéfico e tão correto que se amamente um bebé de 3h/3h? E porquê de 3h/3h e não de 4h/4h ou outro horário?”

Dentro do útero materno, o bebé é alimentado através do cordão umbilical de forma contínua sem que esteja lá um relógio a arbitrar e controlar o tempo de intervalo entre cada período de alimentação. Quando nasce, o bebé precisa de se adaptar a não ter alimento de forma continua e, por isso, deve alimentar-se em “livre demanda”.

Amamentar em livre demanda significa alimentar o bebé sempre que ele quiser, sem restrições, regras (e principalmente sem relógio!). A organização Mundial de Saúde, OMS, recomenda a amamentação em livre demanda e exclusiva até aos 06 meses de vida do bebé.

Mas se estas evidências são preconizadas pelos profissionais mais entendidas no assunto, qual o porquê de se continuar com tanta relutância em alimentar o bebé sem horário fixo? Quantas de nós já pensámos: “o bebé está com fome… Mas não posso alimentá-lo porque ainda não está na hora”. Se, por um lado, as recomendações fornecidas pelos profissionais podem não ser as mais atualizadas, por outro,  existe todo um mundo de gente a dar palpites às mães (como se fossem especialistas!)  sobre como devem conduzir o seu processo de amamentação.

Segundo a pediatra e conselheira de amamentação Kelly Marques Oliveira, estes horários definidos surgem com a “cultura do biberão” e pelo facto de os bebés alimentados por leite artificial terem por norma, horários para mamar.

Mas está provado que cada bebé é único e apresenta o seu ritmo de desenvolvimento. Isto é válido para o estabelecimento dos seus horários também, que será definido por eles conforme as suas próprias necessidades.

Segundo Dr, Nils Bergman (especialista em neurociência perinatal), se levarmos em consideração o tamanho do estômago de um bebé, é expectável que ele queira mamar em intervalos irregulares e muito mais curtos que as 3h. Ao nascer, o seu estômago apresenta o tamanho de uma cereja.

É difícil mudar mentalidades quando se fala em livre demanda mas, na verdade, oferecer a mama sempre que o bebé quiser corresponde à realidade da maternidade desde sempre.

Dar de mamar em livre demanda não significa oferecer a maminha só quando o bebé chora, mas sim quando apresenta algum sinal de fome, tais como:

– aumento do estado de alerta;

– movimentos da língua e da boca;

– levar a mão à boca;

– virar o rosto para os lados (é que o choro já é um sinal tardio de fome).

A OMS recomenda que os bebés mamem cerca de 8 vezes em 24 horas (ou mais se eles quiserem), sem horários predefinidos.

Por tudo isto, as mães devem alimentar os filhos sempre que quiserem ou sempre que eles queiram (guardem os relógios numa gaveta e esqueçam os horários definidos para amamentar). Para além da necessidade nutricional, os bebés precisam de toque e contacto nesta fase de desenvolvimento psicossexual oral e  vão buscar prazer ao acto de mamar/sugar, acabando por se acalmar na mama, encontrando o conforto que procuram.

Existem técnicas  que facilitam a livre demanda, o  uso de sling de argolas (babywearing), o co- sleeping e muitas outras que exploraremos mais à frente.

Não coloquem restrições neste acto de amor e não se preocupem, pois os bebés não ficarão mal habituados ou viciados na mama!

Tudo se resume ao fundamental: Amor, Mimo, Colo, Toque, Cuidado… Tudo o que os bebés necessitam para se sentirem seguros e felizes.

 

Helena Rocha

Chamo-me Helena Rocha. Tenho 27 anos. Sou enfermeira. Estou a tirar especialidade/mestrado em saúde infantil e pediátrica na escola superior de enfermagem do porto. Atualmente iniciei o meu projeto “MalHabituado.BabyCare”, na zona de Penafiel, Paredes, Vale do Sousa. Realizo consultas de apoio à amamentação, consultas de apoio a babywearing e dou cursos de massagem infantil (IAIM). Consultas online/domicilio. Presencial (em grupo ou individual).

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