As paredes do meu quarto

Não sei se é por estar há tanto tempo trancada em casa. Não sei se é por não ver ninguém há tanto tempo. Mas hoje as paredes do meu quarto começaram a gritar o teu nome. E elas iam-se aproximando cada vez mais umas das outras até que me esmagavam por completo.

Não sei se é este tempo escuro que me deixa mais sensível ou porque realmente tenho saudades tuas mas hoje lembrei-me de ti e chorei. Chorei tanto…

Não sei se dói mais uma morte física ou alguém morrer no nosso coração. Nunca tinha conhecido nenhuma delas até ser obrigada a deixar-te para trás e a sina me ter(es) batido à porta.

Não sou uma romântica descomunal, nunca fui. Mas algo me faz sempre querer sofrer exacerbadamente quando te recordo. Não sei se é ego ferido, não sei se tenho algo mal resolvido ou por dizer, se ainda te amo apesar de tudo ou se já não sinto coisíssima nenhuma e estou só a poetizar uma relação abusiva mas algo em ti me dá sempre vontade de sentir uma dor que precisa necessariamente de me consumir, um sentimento que precisa sempre de ser impresso em papel para se imortalizar, chamem-lhe o que quiserem porque eu já não sei mais.

Não sei se é exclusivamente de ti ou de todos os outros amores que se sobrepuseram e que me fizeram não querê-lo mais. Não sei se é porque foste o primeiro ou por ter acabado (comigo) como acabou. Não sei se é por ter um dedo podre ou talvez por não ter sido feita para tudo isto que chamam de amor. Mas depois de ti nada nunca mais foi o mesmo. parece até poético dizê-lo mas não é porque depois de ti o amor nunca mais foi doce ou me fez verdadeiramente querer senti-lo outra vez.

Eu nem sei se foi amor. Nem sei se ainda o é. Eu nem sei de nada. Mas hoje cada centímetro do meu corpo implorava desesperadamente por ti. Hoje o amor era bom outra vez, tu eras bom outra vez e eu era feliz com e sem ti. Parece até ridículo pensar nisso.

O amor já não me pesava na alma e me queimava a garganta, o romanticismo já não me repelia e eras tu que estavas a meu lado. Já não chorava mais do sorria e morrer de amores já não tinha o mesmo significado (o literal).

De repente recuei quatro anos e todas as desilusões amorosas deixaram de me parecer o fim do mundo (porque não o foram, verdadeiramente). De repente já não era uma rapariga desesperada por provar e sentir o que é o amor. De repente eu já não aceitava tudo e mais alguma coisa.

De repente recuei no tempo e tu nunca me tinhas levantado a mão, o meu corpo nunca tinha sido usado como um farrapo e o amor era recíproco e aquecia-me a alma de novo. De repente eu tinha deixado de chorar e passeávamos lado a lado. Como se vivêssemos numa eterna primavera, como se tudo fosse como no início.

Não sei se é a minha cabeça que me está a mandar dormir ou o meu cérebro a implorar para ressincronizar mas hoje sinto a minha cama a engolir-me. Hoje desejei poder mudar o fim de uma história trágica e hoje só queria ouvir um conto de fadas, eu que sou de crónicas e histórias verídicas. Hoje queria-te de novo a meu lado e que essa ideia não acabasse mais com o meu psicológico. Mas são quatro da manhã e amanhã já não me vou lembrar de nada, espero eu. Felizmente.

Nota sobre a autora

Rita Gomes

https://wordslu.blogspot.com/2020/04/quarentena-do-nao-sei.html

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