Aqueles amigos que nos salvam

 

Stress, trabalho, prazos para cumprir, noites mal dormidas… os miúdos que nunca mais regressam à escola e que exigem atenção e boas ideias para se manterem entretidos. Há fases da vida bem tramadas, de facto! Mas, mesmo assim, teimamos em seguir em frente e recusamo-nos a assumir que estamos a chegar ao limite das nossas forças, não vá a capa de super-herói cair. Nesses momentos… há sempre amigos que nos salvam. 

“Para a semana vamos fugir três dias para a Fuseta!” disse a Rita, radiante, e já com tudo planeado ao milímetro para eu não poder fugir. “Não precisam de levar os miúdos” deixou escapar, com graça “Podemos emprestar-vos o Duda sempre que tiverem saudades de apertar umas bochechas”. Está louca!, pensei. Como é que vamos conseguir interromper o trabalho nesta altura, deixar tudo para trás e rumar à Fuseta para ficarmos na praia, de papo para o ar? “Não penses. Diz SIM!”, rematou ao telefone antes de desligar.

E foi com esta simplicidade que começou a nossa aventura a cinco, no Parque Natural da Ria Formosa. Rasgando as águas límpidas a alta velocidade, carregados de mantimentos e sem conseguirmos conter o entusiasmo adolescente, fomo-nos aproximando do local onde iríamos ficar: o barco casa! First experience for me! Majestoso e imponente, ele lá estava à nossa espera com todo o conforto que possam imaginar: camas brancas com motivos náuticos a cheirar a alfazema, uma kitchenette amorosa para os nossos petiscos a bordo (e foram tantos!), um solário para os momentos de leitura e um deck fabuloso para as nossas conversas ao pôr do sol, animadas por gins improvisados com coca-cola.

Explorámos aquela pequena enseada e o conforto da nossa casa flutuante até ao último segundo, acreditem. Com banhos de mar, passeios prolongados no areal das praias desertas, travessias de bote e o contacto com as gentes locais que nos ensinam tanto. Sempre que a noite caía, a bordo, recordava-nos como é importante o contacto com a natureza e com os outros. Sem TV nem wi-fi. Sem rede que não seja a da pesca. Navegando ao sabor das nossas conversas, do desfiar de memórias antigas, ou dos mais recentes ritmos do rap cantados pelo MC Duda.

É preciso saber desligar de vez em quando. É preciso saber ouvir aqueles nos amam e dar valor àquilo que verdadeiramente interessa.

 

Vera Sacramento 

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