Antibiótico Não É Analgésico

“Estou a tomar antibiótico, mas continuo com dores!”

Se calhar já o pensou ou já o disse ou já o ouviu, certo? Em consulta, esta é uma frase relativamente comum, por isso, este mês, vamos esclarecê-la.

Disse “Anti-quê”?!

Em primeiro lugar, clarifiquemos conceitos:

Analgésico significa “anti-dor”. Todos os medicamentos com esta propriedade (sejam eles analgésicos puros ou anti-inflamatórios que também têm essa característica) atuam nas vias do nosso organismo que são responsáveis pela transmissão e perceção da dor. O objetivo da sua utilização é reduzir ou eliminar esta sensação desconfortável – à qual, note-se, devemos estar sempre atentos.

Antibiótico, por sua vez, é um tipo de fármaco que tem o propósito geral de combater/eliminar as bactérias que são responsáveis por determinadas infeções, e é com esse intuito que os prescrevemos e utilizamos.

Então Um Não Substitui o Outro

Se foi isto que pensou, sim, é isso mesmo, um tipo de fármaco não substitui o outro. É certo que, no caso de algumas infeções em que a dor é um dos sintomas, o processo de proliferação bacteriana pode ser indiretamente responsável pelo desenvolvimento e agravamento dessa dor, no entanto, de um modo geral, a utilização de antibiótico não vai exercer qualquer papel no seu controlo, atuando apenas ao nível da eliminação das bactérias. Ou seja, é natural que, com a toma de antibiótico, a dor se mantenha, porque, para o seu alívio, aquilo que é necessário é um fármaco com ação anti-dor.

Nunca é Demais Relembrar

Existe ainda uma outra diferença que não posso deixar de lhe lembrar: os antibióticos são de prescrição médica obrigatória, enquanto os analgésicos podem ser tomados por sua própria iniciativa. Quer isto dizer que, no caso de uma infeção, só deve tomar antibiótico depois de uma avaliação e prescrição médica adequadas (até porque as indicações não são as mesmas para todas as infeções nem para todas as pessoas). Em relação aos analgésicos, pode iniciar o tratamento sintomático por sua decisão, mas lembre-se do seguinte: se a dor não ceder à medicação, persistir ou agravar, é essencial procurar ajuda especializada – mais vale perguntar do que ter de remediar.

Nota sobre o autor

Francisco Santos Coelho, 28 anos de idade. Entusiasta pelo trabalho com e para os outros, sou atualmente Médico a fazer a formação específica em Medicina Geral e Familiar – aquela que, para mim, representa o expoente máximo dessa interação e dedicação. Considero-me um “médico para lá da bata”, envolvido por vários complementos a esta arte que escolhi para a minha vida e que me enriquecem de forma inquestionável dentro e fora do seu exercício. Acredito verdadeira e entusiasticamente no lema da casa em que me formei e que defende que “um médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe” (Letamendi).

Nascido, crescido e pré-graduado na cidade de Penafiel, foi dela que parti depois para todas as outras onde aprendi e vivi muitas experiências que tanto me acrescentaram. Tenho encontrado a certeza de que devemos ser e saber mais para o mundo, mas que só o conseguimos quando somos e sabemos mais sobre nós mesmos. É o maior desafio de todos. É o que procuro.

Ah! Porquê a escrita? Eu explico. Na Medicina, porque é uma forma ainda eficaz de esclarecer dúvidas, desfazer mitos e (in)formar efetivamente em saúde – e falo de saúde como um processo partilhado e participado de ambas as partes. Fora da Medicina, porque escrever é quase-eternizar, é acrescentar som ao silêncio, ainda que o silêncio, sabiamente, não deixe de se fazer ouvir.

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