Ansiedade extrema e pânico. Não tenha medo! (parte 2)

Hoje em dia existem quilómetros de escadas e tapetes rolantes e estamos completamente adaptados a elas, porque, simplesmente vimos que não havia perigo e que a utilização deste circuito por generalização de uma situação desconhecida era desadequada à situação, ou seja, conseguimos ativar esta rede da mesma forma que a conseguimos desativar, assim que verificamos que não existe de facto perigo.

Devido a esta capacidade incrível de adaptação do cérebro, é provável que dentro de algumas centenas de anos, os bebés, tenham uma resposta de medo similar ao verem uma tomada elétrica ou uma lâmina, daquela que têm hoje ao verem animais perigosos.

Na verdade, já é possível observar que em alguns estudos, uma percentagem dos bebes de hoje, já nascem sem medo de imagens e peluches de aranhas, cobras e animais de dentes afiados. A evolução está em marcha.

Depois desta introdução sobre a raiz evolutiva do medo vejamos agora o que se pode concluir dos últimos estudos e progressos científicos na área da ansiedade e dos seus distúrbios; o pânico; a agorafobia; a obsessão compulsão e o pensamento redundante.

Nós precisamos do medo, mas não temos que ser dominados por ele, porque, ser ou não ser dominado por ele, já é na realidade uma opção consciente, que as pessoas às vezes fazem em determinados momentos da sua vida.

É fundamental, como disse anteriormente, consciencializar (de preferência com ajuda psicológica) sobre a lógica daquele medo e fazer-lhe frente, não ceder e deixar de se sensibilizar aos pouco.

Vendo que o que se está a passar, não passa de uma má interpretação de uma situação que pode ser difícil, mas que não justifica uma reação tão incapacitante como o pânico ou ansiedade de longa duração.

Percebemos que a nossa resposta adaptativa ao medo depende de uma pergunta simples, primeiro de uma forma rápida, mas pouco precisa a “dirty road” e depois de uma forma mais complexa, no córtex pré-frontal:

 – Isto coloca-me em perigo de vida, sim ou não?

Sabemos também que devido a neura plasticidade do cérebro e aprendizagem, podemos generalizar essa resposta a outras dimensões da nossa vida, para lidarmos com novos perigos.

Os estudos apontam que alguém que está numa fase mais instável da sua vida ou tem alguma coisa consciente ou subconsciente recalcada ou sem uma solução definida, está mais predisposto, a qualquer momento, a reagir através de um episódio de pânico.

Sabemos que se esse episódio acontece, por exemplo, numa sala de aula, o cérebro pode interpretar e correlacionar aquele episódio com aquela sala de aulas, ou pessoa/as, ou até cheiro. Esta correlação é tão eficaz que a pessoa pode sentir-se mal só de passar a porta da sala, sentir o cheiro ou recordar-se disso.

Hoje em dia sabemos que esta adaptação é um fenómeno desadequado do neuro circuito primário do medo, que reage com a mesma intensidade do que se houvesse um perigo real de morte a fatores “por resolver” conscientes ou subconscientes.

Estes fatores criam instabilidades de longa duração no sistema nervoso do indíviduo e consequentemente são percecionados pelo cérebro como ameaças ou situação de perigo iminente.

O ansioso quando tem uma crise, pensa que vai morrer. As urgências estão cheias destes heróis, que lutam contra eles próprios e contra esta sensação orgânica de pânico. Não é algo imaginário, e a sensação é bastante real, apesar de nunca ninguém ter morrido de pânico, o medo e desgaste criado é agoniante para o ansioso.

O sistema atual perpetua este ciclo, por falta de acompanhamento psicológico e de medicamentação que é feita para além da fase aguda.

O verdadeiro inimigo do ansioso, esta dentro dele, “navega” entre a pregas do seu cérebro, da sua consciência. Faz parte dele e se não for devidamente tratado, torna-se nele.

Conhece-o melhor que ninguém e vai-se adaptando aos seus medos e às suas hesitações.

Alimenta-se do medo e do medo de ter medo.

É importante o ansioso saber que ninguém morre ou morreu de ansiedade.

No caso de serem diagnosticados com Ansiedade, procurem de imediato ajuda. Nas fases agudas e pós-aguda psicológica, a ansiedade e seus afins, não se curam com medicamentos, mas com mudanças interiores fortes. A medicação pode existir nas fases iniciais do transtorno para se conseguir intervir psicologicamente nos casos mais graves.

Lembre-se, sempre que tiver uma crise, por muito mal que se sinta, não fuja, exponha, para que o seu cérebro entenda que não existe perigo real de vida.

Volte ao local, mantenha um diálogo interno e diga: “Faz o melhor que puderes!”.

Aos poucos o pânico e a ansiedade vão desaparecendo. Há mais força em si do que imagina. Esta situação quando passar, vai torná-lo(a) numa pessoa “indestrutível” dia após dia.

As crises de pânico são só sensações, e nunca só por si causou a morte a ninguém. Lembrar-se disto as vezes que forem necessárias é essencial.

Consciencialize que o pânico tem a força que lhe dá, e, por isso, acredite: consegue controlá-lo, se tiver disposto a não se render a ele.

 

Nota sobre o autor

Dr. Alexandre Machado, 

-British Psychological Society-Chartered Psychologist 
 
– International Neuropsychological Society- Full Member  
 
-Neuropsychology Division Member-DoN British Psychological Society

-European Certificated Psychologist – EuroPsy
 
-Ordem dos Psicólogos Portugueses- Membro efetivo 
 
-Mestre em Neuropsicologia pela Universidade Católica de Portuguesa 
 
-Doutorando em Ciências da Cognição e Linguagem pela Universidade  Católica  Portuguesa 
 
-Especialista condecorado em Operações Psicológicas Militares – Avaliação e Previsão de Comportamentos, Mediação de Conflitos.
 

-Instrutor convidado Especialista em Combate Corpo a Corpo -USA Army / DAE- Destacamento Acções Especiais Fuzileiros 
 
-Competidor e Professor de Jiu Jitsu Consagrado, 30 x Medalhado em Campeonatos Mundiais, Europeus e Opens Internacionais.
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4 comentários em “Ansiedade extrema e pânico. Não tenha medo! (parte 2)

  1. Gostei muito do texto. Descreve e explica bem toda a narrativa do pânico. Tive de mudar da cidade para o campo, pedir licença sem vencimento, e abrandar a minha vida toda porque não suportava mais viver com repetidos ataques de pânico. Parei de tomar medicação. Hoje sinto que tenho mais qualidade de vida, mas não venci o pânico. E sinto-me covarde, por isso. Mas, por outro lado, sempre soube que era uma heroína, quando fazia tudo o que os outros faziam , apesar dos ataque de pânico, dia após dia, ano após ano.
    Obrigada.

  2. Sofro de ansiedade e ataques de pânico desde muito nova talvez dos 18 anos hoje em dia tenho 42 e já fiz inúmeros tratamentos hoje em dia há não tomo medicação faço yoga sou seguida por uma psicoterapeuta mas mesmo assim tenho alturas que não consigo controlar os meus ataques de pânico e a minha ansiedade.so queria um dia viver a minha vida sem este mostro que habita em mim.obrigada este texto fez-me compreender um pouco a forma de encarar e lidar com esta doença tão incapacitante .

  3. Agradeço os conselhos e explicação numa linguagem que os ansiosos percebem perfeitamente. No meu caso a mudança interior, o não fugir, o se expor, o voltar ao local, no inicio a medo e com bastante ansiedade (e com repetição de ataques) ajudou bastante.

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