“Animais”?

A máscara

Adoramos animais: damos peluches às nossas crianças e os nossos desenhos animados estão cheios de personagens animais.No entanto, acabamos por matar 1200 milhões de animais terrestres por semana, para consumo humano, uma quantidade maior do que o total de humanos mortos em todas as guerras ao longo da história. Note-se mais uma vez, por semana. Este número exclui os animais marinhos como o peixe e o marisco.Todos estes animais queriam viver. Esta chacina só é possível porque no fundo vivemos num sistema disfuncional, em que se oculta ou mascara ativamente o processo de produção de carne e peixe, convertendo-os em meros objectos e glorificando-se o seu consumo.Os animais não são “outros”, nem são objectos. Os animais são mesmo a principal vítima a nível global do sistema de subjugação industrial dominante – que também nos domina – a favor da ilusão de que somos seres especiais, alimentados por nebulosas crenças quase religiosas da superioridade humana. Séculos depois de Darwin ter ancorado a origem do ser humano em antepassados símios.Na realidade, essas ideias são usadas pelo complexo industrial e económico para facilitar o seu domínio sobre os consumidores, que se sentem falsamente “bem-tratados” e “especiais”.Pelo contrário, a forma como tratamos o planeta e os seus outros habitantes, mostra que como espécie não temos respeito nem por esses co-habitantes nem pelas gerações futuras, e que portanto dificilmente merecemos o título de inteligentes.

Um problema a nível mundial

A pecuária tem levado à desflorestação de florestas, como a Amazónia, sendo que se estima que 88% da área desmatada da Amazónia deu lugar a pasto ou produção de rações. (Margulis, S. (2004). Causes of Deforestation of the Brazilian Amazon. World Bank Working Paper No. 22) Há também problemas de poluição de efluentes e emissão de gases de efeito de estufa.80% da área agrícola total é usada para produzir gado, mas acaba por produzir apenas 18% das calorias ingeridas. Isto significa que haveria menos desperdício se nós comêssemos directamente o que damos ao gado. A adopção global do veganismo libertaria uma área de pastagens do tamanho de África, que poderia ser melhor usada. (Reportagem do The Economist: https://www.youtube.com/watch?v=hwoL6hWd4l0)Segundo um estudo (https://www.livekindly.co/60-of-all-mammals-on-earth-are-livestock-says-new-study/), 60% dos mamíferos terrestres e 70% das aves do planeta não são animais selvagens mas sim animais criados para consumo humano.Um estudo recente sugere ainda que a adopção global do veganismo seria a mudança mais importante para assegurar a sustentabilidade do mundo (https://tinyurl.com/ycoz832oA nível da saúde existem inúmeros estudos ligando o consumo de animais com doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, cancros, infeções, asma, etc. (www.nutritionfacts.org)

O dilema humano

O mundo está para além da nossa racionalidade, mas a racionalidade é a nossa melhor arma para o compreender.O mundo está para além do “bem” e do “mal”, mas a ética é a nossa melhor arma para tomarmos as decisões correctas.E à medida que nascem cada vez mais pessoas, o impacto das decisões de cada um aumenta.Precisamos de discutir publicamente qual é o melhor caminho. As gerações futuras olharão talvez para nós como monstros que destruíram, por exemplo, a Amazónia, para criar bifes. Para dar dinheiro a magnatas. Enquanto nos atiram areia para os olhos.O mais irónico acaba por ser isto: é precisamente a carne dos animais que nos adoece. Às vezes quase que acredito na retribuição divina. Mas acredito certamente na estupidez humana.

O futuro

Acredito também, no entanto, que temos um grande, grande potencial. A contemplação desinteressada tem um grande papel na abertura do coração, no próprio treino da empatia, como nos métodos tradicionais budistas, e na adopção de formas de vida ajustadas.Por isso defendo o veganismo, o ateísmo e o budismo, mesmo sem concordar com partes importantes dos discursos destas ideologias. Mas acima de todas as diferenças irrelevantes defendo a rectidão, e a interdependência das pessoas.

 
Nota sobre o autor
Olá, sou o João Madureira, tenho 34 anos. Estudei diversas áreas, desde cinema a agricultura biológica, e em particular tenho o curso de Técnico de Controlo de Qualidade Alimentar, mas não estou a trabalhar. Dedico uma boa parte do meu tempo a activismo a favor do Veganismo e de uma consciência fraterna e não-dogmática. Desde há dois anos que traduzo legendas no site www.nutritionfacts.org, organizado pelo Dr. Michael Greger, que apresenta extensa informação sobre nutrição baseada em estudos científicos. Criámos recentemente um grupo que pretende dar apoio às pessoas que adoptem uma alimentação vegana de forma saudável.
 
Contacto no Facebook.
Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios