Andar pela mão

Aprendemos a andar pela mão ainda muito novos. Pouco tempo depois de aprendermos a caminhar, facilmente acedemos a estender a mão aos nossos pais e ao seu sentido repleto de proteção e carinho. Um quadro absolutamente delicioso e também recheado de inocência que, seguramente, nos carrega de boas memórias. Estou absolutamente convencido de que não existe ninguém que nunca tenha andado pela mão de alguém, enquanto criança.

Este gesto, de genuína e exclusiva vertente emocional, como muitos outros da nossa vida, vai sendo transformado ao mesmo ritmo da vertiginosa galopada da idade.

Mais ou menos lentamente, com a mínima atenção, vamos dando conta que a emoção característica de nos deixarmos levar pela mão vai sendo gradualmente substituída por outras formas psicológicas e consequentes formas de estar na vida.

Com sentido de observação podemos reparar que uma dose suficiente de interesse e ambição desmedida, chega com a adolescência e com a fase adulta.

Não é difícil darmos conta de adolescentes que são levados pela mão, movidos a emoções duvidosas, mas com objetivos profissionais prematuramente definidos, quantas e quantas vezes associados a cores políticas onde as mãos, apesar de nunca deixarem de estar presentes, fazem parecer que são invisíveis…

Depois, já com a fase adulta no seu esplendor e com o hábito enraizado de se seguir pela mão de alguém, poderá um curso superior funcionar como uma cereja no topo do bolo e fazer chegar os primeiros sintomas da doutorite e que podem, entre outras coisas, disfarçar a competência, a capacidade, a transparência e abrir portas, por exemplo, à arrogância e ao humanismo disfarçado, eventualmente visíveis num qualquer lugar profissional e de aparente protagonismo social e financeiro, claro.

Optar por seguir, para aqui e para ali, constantemente pela mão de alguém, poderá não ter limite de idade. No entanto, estou absolutamente convencido de que as emoções que daí resultam, incluindo a inesgotável e magnífica sensação de construção de laços genuínos contínuos, completamente desinteressados e sem cores previamente exigidas, nunca chegarão com um sorriso verdadeiro. E livre.

E tu? Chegaste onde chegaste, pela tua cabeça, tronco e pés ou levaram-te quase sempre pela mão?

 

Nota sobre o autor

José Rodrigues. De Viseu, com 49 anos, é Autor dos romances “O tempo nos teus olhos”, “Voltar a Ti” e “O rio de Esmeralda”.

Com formação superior na Área da Gestão e carreira como consultor e formador. Sócio fundador da Visar, onde desenvolve toda a sua actividade profissional. A família e os amigos, o karaté, a natação e o futebol veterano complementam o enorme gosto pela escrita.

 

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