Andar nas Nuvens

 

Ter o coração bem junto à boca, quando o motivo é a paixão, é um fenómeno tão bom quanto difícil de descrever. Sentir que, daqui a pouco, vamos encontrar alguém por quem estamos apaixonados, consegue fazer com que o coração saia do seu lugar e se encoste bem junto à garganta. Esta viagem imaginária que faz o órgão vital tem exatamente a mesma duração da paixão. Tem também, pelo menos, dois passageiros. É uma viagem fabulosa, com paisagens impossíveis de descrever, tal a beleza com que os olhos dos viajantes a veem. Queremos viajar a todas as horas, a todo o instante. O único meio de transporte são mesmo as nuvens, onde fazemos questão de poisar todo o corpo. Um meio de tal forma saboroso que nos faz esquecer que, a qualquer momento, um dos passageiros pode resolver não mais viajar. E dói voltar a colocar os pés no chão. Dói ainda mais sentir que fica um caminho deserto entre o peito e a garganta e sentimos que, de uma forma teimosamente duradoura, o coração se recusará a querer voltar a fazer esse percurso. E é neste momento que se paga o bilhete sobre a forma de insónias, piques de mau humor ou vontade de nada querer ou fazer. Quando alguém mais velho ou experiente nos tenta confortar através de frases como “isso passa com o tempo”, discordamos de todos os termos. Na verdade, passamos a achar que o tempo passou a ser medido por um relógio de corda que parou.

 

 

Nota sobre o autor

Chamo-me José Rodrigues, tenho 49 anos, casado e pai de dois filhos lindos. Sou consultor, formador e lidero uma empresa de consultoria que formei há 20 anos.

Adoro escrever. Talvez por servir para exorcizar todos os meus fantasmas. Talvez porque o meu mundo profissional, tremendamente ligado a números, faça com que muitos dos meus dias e noites se acalmem através da escrita. Tenho dois romances publicados e no mercado ( “O Rio de Esmeralda” e o “Voltar a Ti), mas antes deles escrevi um outro ( “Boas memórias de um mau estudante”) acerca do tema que mais me fascina e que me faz seguir atentamente o Elefante de Papel – a memória!

Todos os dias escrevo sobre quase tudo o que me vem à cabeça ou me preocupa.

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