Amar Depressa

Tiro o cabelo da face e beijo-a.

Beijo curto e apressado.

Apressado para trocar de roupa, fugaz para preparar o jantar enquanto se atende telefonemas, ainda, de trabalho.

“És linda, minha filha!”

Foi o que pensei aquando do beijo com os olhos fechados.

E repito sempre nos beijos que não tardam em ser demorados e nos olhares fugazes.

É esta a minha verdade.

Como uma verdade incontrolável.

Amar rápido.

Amar incondicional e verdadeiro.

Amar à minha maneira.

De maneira intensamente a correr. Será que sou eu que só sei amar assim? Ou é a vida que eu escolhi que me faz amar assim?

Tento proteger do sol em dias quentes e da chuva em dias frios; da multidão na rua e dos carros nas estradas; do gemido enquanto sonha e do silêncio da madrugada enquanto dorme.

Exacerbar os momentos felizes e odiar os tristes.

Saber que existem dias (demasiados dias) que não estou mas, querer compensar, de forma desajustada, o abraço, a carícia na face, a festa no cabelo, quando estou.

Pedir desculpa por não ter estado.

Pedir desculpa por ter estado depressa de mais.

Pedir para entrar agora.

Olhar com ternura.

Abraçar apertado.

Rir a dobrar.

Rir com ela, e dela, e de mim.

E rir…

Sorrir ao ouvir “mãe estás tão linda!”

Explicar porque fica de noite.

Dar hoje e agora.

Não dar amanhã.

Dar ontem.

Deitar com missão cumprida, só às vezes.

Chorar porque sou mãe e não querer que cresças.

Chorar por não conseguir que o tempo pare.

Chorar por amar como se fosse uma prova de atletismo em que o tempo está a contar.

Chorar por ter saudades quando o dia era só teu.

 

Nota sobre a autora

Chamo-me Joana. Tenho 40 anos e sou muitas coisas… filha, irmã, enfermeira, formadora na área da saúde, diretora técnica de uma empresa de apoio domiciliário mas a mais difícil de todas… sou Mãe, Boadrasta e Mulher.

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