Algodão doce

O mundo contigo era outra coisa.

O sufoco aperta onde já não há massa possível de apertar. Nunca me contaram que o sufoco agarra o invisível.

E nem todos o conhecerão, não nesta medida, porque não te tiveram.

Passa, dizem. Oh, esta ingenuidade ridícula. Era preciso que te conhecessem para se envergonharem pelo disparate.

De ti não sabem nada, nem daquilo a que tu sabes.

Sabias.

Não estás.

E não estando, continuas a saber ao mesmo?

Foi sabor de feitiço, posso dizê-lo.

E dizem que o que não falta é vida. Por aí, vida, por todo o lado. Continuar a jornada… dizem. Interessa-me pouco o que dizem.

Peguei na mão de um, uma vez. Voltei-a e olhei-lhe a palma, meti-lhe um grão de areia em cima. Ia dizer-lhe, mas calei-me.

Tivesse ele tido aquilo de ti na mão, saberia o vazio de já não o ter em lado nenhum.

E eu tive-te aos punhados em ambas as palmas, juntava-as e tu transbordavas no que eras.

O que melhora é o hábito. O costume ao insípido. É a que sabe a vida na tua ausência.

O que é que eles sabem de ti para me receitarem a cura do tempo? Só a amnésia me valerá.

O tempo é uma m****. E o que é que ele sabe de ti? Que se apresente diante de mim eu digo-lhe umas coisas com a raça que lhe dirias.

Lembras-te de como eras? Esse vulcão que tinhas dentro era uma beleza em lava quente. Eras quente, tão quente.

Até o sol é já frio aos meus olhos.

O termo de comparação. É isto que os outros dos conselhos não tiveram. Tu és o termo.

Não estás, não estás, não estás!

Dá para arrancar a m**** do peito para fora?

Não dá. Desfez-se e está em todo o meu sangue, e todo ele és tu.

M****, és tu.

Sabes a que sabia o teu colo? A um rochedo de algodão doce. O sabor e a força.

Como é que tinhas disto? Até te perguntava se pudesse. Não estás. Combinavas tanta coisa que não há bem uma definição que em ti se encaixe.

E por isso não sei falar de ti.

E eles não sabem, muito menos, de alguma coisa.

E esta é a gravidade de não estares, é eles não saberem como é! Falta-lhes o termo.

E se não sabem eu estou só e a minha tristeza vai soar a loucura. Loucos são eles quando dizem que o tempo sara.

Quando se morre, morre-se.

E eu não gosto que me iludam.

Não estás. E de tudo o que eras soube, no final das contas, que eras o tempo. O meu.

Eles que se calem. Gente sem areia nas palmas não sabe ao que tu sabias.

Algodão doce embebido em pingos de feitiço.

Nota sobre a autora:

Gabriela Pacheco, nascida em 1990.  Autora Literária, Gestora de Desenvolvimento e Formação com Certificação Internacional em Practitioner PNL – Programação Neurolinguística. 

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