África é tão longe

Não há palavras que expliquem a angústia da distância dos nossos. Entre os “estou bem” e as fotos bonitas de dias bons, estão as ausências de notícias dias seguidos, os medos do pior.  

África é tão longe, a avó nem consegue dizer onde estás, porque no seu tempo a República Central Africana não era destino dos nossos militares. Diz sempre que estás longe, que estás bem, que estás quase a chegar. 

Imagino muitas vezes como será a cabeça de um miúdo de 20 anos que passa dias aos tiros para proteger uma população que mal conhece, privada de boas condições de vida à mercê de milícias que recrutam miúdos de 10 anos para soldados. Imagino como virá essa cabeça num regresso à vida que por cá espera. O que vai querer guardar ou querer esquecer.

Imagino estes miúdos, homens orgulhosos da missão que desempenham, boinas azuis, surpresos muitas vezes ao encontrarem, na experiência de uma vida, coisas que não esperavam, ao conhecerem lugares que existem, mas onde Deus parece se ter esquecido de passar.

Imagino as orações das mães e pais que esperam que o tempo passe, que volte a ser Natal, mas com todos mais perto, que anseiam notícias e querem dar abraços.

Imagino o vazio no peito dos irmãos, os mais próximos, de forte ligação, separados por tantos quilómetros e envoltos em preocupações, a sentirem só pelo tom da voz os dias menos bons de quem está longe… a sentirem falta de companhia para um cigarro ou um desabafo!

Imagino a saudade e o aperto no peito!

A internet substitui as cartas de guerra, ajuda nas saudades, vemos o rosto mais magro ou mais cansado de quem foi há dias de mais e o tempo está a demorar para o trazer. Bênção dos tempos modernos. Bênção que não mata saudades, não desaperta o coração!

Mal posso esperar que regresses, com a cabeça no lugar e o coração bom que levaste daqui! Mal posso esperar que regresses. Mal posso esperar que regresses e com toda a certeza ver que os teus 21 anos, já não são os 21 que levaste daqui.  

Mano, mal posso esperar que regresses. Quando chegares, desembrulhamos presentes, levamos o bacalhau para a mesa, jogamos às cartas aguardando a meia noite, faremos brindes e vamos rir e falar alto demais. Quando chegares para nós, será Natal outra vez!

Nota sobre a autora

Carolina Albuquerque, 35 anos. Mulher e Mãe em construção, depois de 12 anos de trabalho na área da gestão educativa e formação profissional, é agora Mãe quase em permanência a começar um pequeno projecto próprio. Viajante, cheia de planos e sonhos, cheia de fé na vida e nas pessoas, com gosto pela escrita, pelas emoções dos dias simples, pelas viagens sem destino e pelas coisas boas da vida, tem um pequeno blog para que não se percam as aventuras da sua família.

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