A violência disfarçada

Eu vim de uma vila pequena, não muito longe de Lisboa, mas longe o suficiente. Mas poderia ter sido de qualquer outro lugar. Não me faltou informação, mas a verdade é que nós nunca sabemos quando estamos num relacionamento abusivo, porque uma relação abusiva é disfarçada no início, das mais diferentes formas. Começa nos detalhes. As pessoas dizem que gostam de nós, no entanto arranjam diversas formas de nos pôr “em baixo” e fazem-nos sentir mal com quem somos. Dizem que somos muito especiais, mas que só eles estão a ver, porque o resto do mundo, não acha certo, não gosta da nossa maneira de ser e sentir e dessa forma, nunca seremos ninguém na vida.

Sofrer de preconceito de familiares, amigos ou da sociedade, é estar numa relação abusiva. Violência doméstica, por parte de familiares, amigos ou estranhos, é estar numa relação abusiva.

E a chantagem ou violência psicológica é a mais devastadora relação abusiva, porque na maior parte dos casos é silenciosa e disfarçada, pela frase mais comum no preconceito e na violência que é “estava a brincar”.

Cresci “meio alternativa”, porém não o suficiente, para ser considerada “alternativa” e “betinha”, mas não o suficiente, para ser considerada “betinha”. Não será preciso dizer que a escola foi um período difícil. Era a mais estranha, tímida e pouco popular. Com 12 anos já media 1,70cm, lisa como uma tábua e super magra. Tive todas as alcunhas conhecidas para me descrever, tais como: escanzelada, girafa, palito, etc. Logo nesta idade nos começam a dizer que sem peito e curvas, não vamos conseguir arranjar namorado ou marido e para a maioria das meninas de tenra idade e ainda sem o julgamento alheio dos adultos e um sistema de suporte em casa, interiorizam facilmente a ideia de ser menos que as outras.

Blá, Blá, Blá…anos mais tarde casei, mas o meu ex-marido tinha uma doença muito comum nos humanos que é a falta de sonho e durante anos tentou que eu muda-se a minha personalidade, deixasse de sonhar e deixasse de querer mais e melhor simplesmente porque ele não queria sair da sua zona de conforto e não era muito bom a defender os seus ideais. Rapidamente veio a lavagem cerebral e, em público, a humilhação com sarcasmo. Sabem quando alguém humilha o outro em público – sempre a brincar claro – tentando arranjar aliados, que lhe deem razão alimentando assim o ego? Era isso.

Não quis ter filhos e preferi ter uma carreira profissional, sou licenciada em Antropologia, mas escolhi ser maquilhadora. Tenho um equilíbrio grande entre o Yin e o Yang e por isso uns dias sou muito feminina, uso trançinhas e vestidos rodados e outros tenho a força que erradamente é sempre associada aos homens. As mulheres acham-me muito agressiva e muito independente e os homens pouco submissa (característica que a maioria não gosta nas mulheres). Como não agrado a quase ninguém, decidi agradar a mim própria e seguir em frente com os meus princípios, atitudes e opções de vida.

Eu estive em vários relacionamentos abusivos, durante diferentes fases da minha vida e só consegui sair deles, quando percebi que ninguém é perfeito e que existia luz em mim.

Todos nós temos uma luz e isso não é motivo de culpa, não é motivo de vergonha, é motivo de orgulho.

Lutei, lutei e lutei, mas há três anos cansei-me e por algum tempo baixei os braços, sentia-me exausta de correr contra o mundo para defender acusações tão básicas e sem sentido no secúlos XXI, como uma mulher não querer ter filhos.

Depois desta ideia estar interiorizada, vamo-nos afastando das pessoas à nossa volta, vamo-nos moldando ao senso-comum, vamos fazendo os possíveis para nos encaixar, porque a certa altura, questionamos se o erro não será nosso e é insuportável ter de estar constantemente a ouvir críticas.

Se alguém à nossa volta diz que a nossa opinião não se encaixa nos demais, que estamos errados em “pensar fora da caixa”, isso é manipulação… Abuso!

Quando a nossa individualidade/personalidade, não se encaixa no que é dito pelas massas e tentam a todo o custo moldar-nos, isso é manipulação… É violência!

E se alguém nos bate, essa é a mais óbvia das violências.

Está na hora da desintoxicação! É altura de abrir caminho à ordem, quando estiveres em ordem contigo mesma. Começas a aceitar-te, a perdoar, a afirmar-te e a seguir em frente!

From Daisy with LOVE!

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