A vida que nos vive!

Sentada na cadeira cisma sobre os dias de todos os dias.

Todos os dias cheios de coisa alguma que espremida coisa nenhuma é. Os dias com uma correria desenfreada sem uma meta definida. Apenas a corrida para não ser atropelada. Correr numa roda viva que nos suga a vida.

O tempo que foge por entre os dedos das mãos e nos deixa reféns de um tempo que tem metas castradoras e sufocantes para quem não as cumpre e para quem as cumpre.

Na cadeira de todos os dias olha em volta e vê os diferentes cenários que a vida impõe. Desfilam, como cenas de um filme, e percebe que nem sequer foi telespectadora de nenhuma delas. Apenas deambulou na cena com a pressa de quem quer entrar na próxima.

Hoje, as rugas na cara denunciam que a vida lhe passou, trespassou e até cravou marcas profundas. Muitas vezes não deixou sentir. Muitas vezes, demasiadas vezes deixou de se sentir. Precisava de viver as cenas do próximo capítulo e por isso deixava de lado a cena que se desenrolava à sua frente.

Hoje com demasiado tempo a vida deixou sentada na cadeira. A vida já não tem tempo para ela e por isso deixou-a no canto da sala. Ela, já não corre e a vida já não a quer!

A vida é assim suga-nos toda a energia. Nós autorizamos porque sentimos que é assim a vida. Depois, quando sugados, ficamos vazios de vida. A vida tem a crueldade de nos deixar a um canto, de não nos desejar, de apenas se servir de nós como se fossemos marionetas.

Na cadeira dos dias via a vida das plantas essas sim viviam a vida delas. Espreguiçavam-se ao sol, nutriam-se com a terra e a água e contemplavam o seu simples esforço de viver. Sem pressa, sem correria, sem comparações, sem medos, sem desafios…

Quando a vida nos vive a nós somos reféns.

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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