A todo o instante

As surpresas que aparecem a todo o momento, positivas ou negativas, fazem com que a palavra mudança assuma importância crescente e vital em todas as nossas ações, pessoais ou profissionais. Ainda que nem sempre exista uma receita ou conduta eficaz para se responder com sucesso à mudança, devemos reservar dentro de nós um espaço relativamente grande onde possa caber uma enorme e flexível capacidade para inventar ou reinventar. Este espaço interior, do tamanho de um rio, é diferente de pessoa para pessoa. Cada um tem o seu. Semelhantes apenas na fragilidade do seu estado líquido, sempre sujeito a secas inesperadas, e também na luta por não fazer descer o seu caudal. Assim, para mantermos a ilusão de o manter a um nível aceitável, procuramos, muitas vezes desesperadamente, ter acesso a alguns litros de coragem, talento ou ideias luminosas, que com facilidade se adquirem em vasilhames padronizados por idade, sexo ou profissão e perigosamente com falso selo de durabilidade que, sem hesitar, deixamos que desaguem no nosso curso de água natural. Acho inevitável o recurso a este constante abastecimento de litros e litros que, diga-se, nem sempre precisamos de pagar, tal a enormidade da oferta, tantas vezes revestida a papel ilusão. Acho igualmente inevitável que consigamos controlar os prazos de validade do líquido que nos é fornecido em série, para manter os nossos caudais no seu curso mínimo e na dose suficiente para assegurar um ritmo cardíaco razoável.

A tentação de recorrer aos abastecimentos de essência duvidosa, dificulta-nos a confirmação da profundidade do verdadeiro líquido de ouro que corre no nosso interior e, por isso, fazemos planos a longo prazo para tudo e mais alguma coisa na nossa vida, transformando, muitas vezes, o temporário em eterno.

A meu ver, a sobrevalorização da planificação a longo prazo tem cada vez mais os dias contados. Nas organizações ou empresas, a enorme incerteza que teimosamente reveste o meio envolvente impede a conjugação em voz alta dos tempos verbais do futuro simples ou composto, e faz repensar o verdadeiro significado da palavra que resulta do grego antigo stratègós. Na vida, cá fora, também o hoje e o agora deverão sobrepor-se ao amanhã e depois, no que diz respeito à responsabilidade na conquista de cotas de felicidade. Esta, uma enorme colcha de retalhos coloridos por momentos que, muitas vezes, são apenas conjugáveis no presente do indicativo.

O fenómeno da perda de pessoas importantes na nossa vida ou um susto de morte, por exemplo, não deverão ser os únicos alarmes para fazer lembrar a importância dos pequenos intervalos de tempo, ocasiões oportunas ou instantes.

O hoje já chegou.

Ainda falta muito tempo para o amanhã.

Nota sobre o autor

José Rodrigues. De Viseu, com 49 anos, é Autor dos romances “O tempo nos teus olhos”, “Voltar a Ti” e “O rio de Esmeralda”.

Com formação superior na Área da Gestão e carreira como consultor e formador. Sócio fundador da Visar, onde desenvolve toda a sua actividade profissional. A família e os amigos, o karaté, a natação e o futebol veterano complementam o enorme gosto pela escrita.

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