A solidão mata

É sempre tempo de refletir sobre os temas do envelhecimento e da emoção e de reconhecer que há sempre espaço para novas oportunidades e descobertas. Nunca é tarde para se ser feliz, mesmo quando a luta contra a solidão se tornou o fio condutor da vida.

Aceitando que não é possível fugir da velhice, pode optar-se por louvar as suas vantagens, colocando à altura do espírito, da memória, da maturidade e imaginação, o vigor e o prazer sentidos na juventude, altura em que, por vezes, tão pouco lhe aproveita. Depurada pelo esforço dos dias, a maior idade pode tornar-se sublime a partir desses laços invisíveis com a intimidade do mundo.

Talvez a cada idade física se faça equivaler uma estação do ano, como se diz por aí. No entanto, talvez seja possível transformar o outono físico da vida numa bela primavera, com as mais belas flores e prados verdes. Afinal, nem sempre a mais encantadora estação do ano traz o sol todos os dias, mas a sua beleza não se perde por isso. Talvez seja mesmo assim, pois o verão nem sempre traz o mar calmo nem as suas luas se conseguem ver todas as noites. Talvez o amor e a amizade não precisem de ser complicados e o coração consiga assim, de forma simples, fazer magia com todas as estações.

É bem verdade que o tempo de vida nos faz ir ganhando cicatrizes no coração e que ficam para sempre. No entanto, quando deixam de doer, ganha-se vontade de viver, seja qual for o tempo que resta de vida. Logo depois, chega o desejo de contagiar esta forma de felicidade a todas que a testemunham.

Infelizmente, no sentimento contemporâneo, a solidão assume contornos que a tornam um trauma na sociedade. Um fenómeno que pode acontecer mesmo com um enorme conjunto de objetos valiosos ou pessoas à volta de quem se sente só. As noites, para quem nunca foi habituado a estar sozinho, tornam-se lentamente mais silenciosas e abrem portas a pensamentos negativos que se entranham na mente sem pedir licença. O corpo, parecendo mostrar-se solidário com o estado da alma, pode começar a dar sinais de mudança.

A solidão pode matar. E para que ela não mate, é preciso uma enorme força interior de quem se sente só. Mas não chega! É preciso que todos assumam a responsabilidade para que isso não aconteça.

 

Nota sobre o autor

José Rodrigues. De Viseu, com 49 anos, é Autor dos romances “O tempo nos teus olhos”, “Voltar a Ti” e “O rio de Esmeralda”.

Com formação superior na Área da Gestão e carreira como consultor e formador. Sócio fundador da Visar, onde desenvolve toda a sua actividade profissional. A família e os amigos, o karaté, a natação e o futebol veterano complementam o enorme gosto pela escrita.

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