A plataforma da geração Millennials

A “Plataforma”, um filme Netflix, conduz-nos numa forte reflexão, sobre a sociedade atual. Apresenta-nos um sistema capitalista moribundo que nos tem vindo a consumir nas últimas décadas. O filme atira-nos de forma nua e crua para os meandros mais dramáticos do sistema. Um sistema rigoroso, que todos ambicionam entrar. Detentor de um processo de seleção rigoroso, para a obtenção de algo muito almejado: um diploma, uma cura para o cancro ou uma alternativa à prisão…Porém, depois da admissão percebe-se que se ficou condenado a um sistema impessoal, injusto e pouco recompensador. Em bom rigor percebe-se que só há espaço para três tipos de pessoas: as de cima, as de baixo e as que caem!

Ora, este é o filme que melhor caracteriza o momento de uma das gerações mais condenadas da história. Muitos dizem que é rasca, outros que é à rasca. Porém, a única certeza que se tem é que no espaço de uma década vive duas crises que lhes vão condicionar o futuro para todo o sempre. Na primeira, 2011/2012, estavam a terminar licenciaturas. Entraram no mercado de trabalho (os que conseguiram) com a troika a ditar cortes salariais, e com as empresas a pedirem recibos verdes. Quando o país começa a equilibrar as contas e até atinge um excedente orçamental, começa a tão almejada estabilidade profissional, com os primeiros contratos e com os primeiros desejos: como obter casa própria. Porém mais uma crise que atira tudo por terra!

Parece quase um karma para os Millennials.

Todos sabemos o que vão dizer. Têm de bater punho. Têm de se reinventar. Têm de saber que um diploma é apenas um diploma e não garante nada!

Foi a primeira geração a quem não deixaram sonhar, nem com estabilidade profissional nem com um projeto familiar.

Ora, milhares dizem que se deve ler o mercado, que este tem um ciclo que importa conhecer. Porém, esquecem-se de avisar que é um mercado desregulado. Com regras viciadas. Um mercado que se tornou um torneiro, cujo objetivo é ver quem fica com tudo.

Vende-se o sistema como a grande oportunidade para o qual não há alternativas. Um sistema com regras definidas e rigorosas por uma entidade que ninguém conhece, nem elege. Todavia, tal como na “Plataforma”, onde um grupo minucioso prepara a comida, também na plataforma da vida quem define com requinte as regras, fá-lo com minúcia para que estas beneficiem apenas quem está nos primeiros andares.

Basicamente, no capitalismo exige-se aos que estão na base da pirâmide que provem o seu valor como cidadãos, com a força do trabalho e com o tão apregoado empreendedorismo. Estes, alimentam assim um sistema esgotante definido acima de tudo por uma concorrência impiedosa, onde quem não se encaixa é atirado para as bordas e acusado de não estar à altura dos desafios.

Mais uma crise, mais uma volta no carrossel. Entre os de cima, os de baixo e os que caem, a plataforma vai continuar a girar!

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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