A nossa pérola do Atlântico

Corria dezembro, mês gélido para quem vive nas encostas da serra mais alta do continente. Havia que largar e procurar temperaturas mais amenas!

Ora bem, um sítio ameno e tranquilo em Portugal, em pleno dezembro? Nada mais que a nossa pérola do atlântico, os Açores!

Em bom rigor foi uma viagem demasiado curta, apenas 3 dias. Curta, porque em cada dia a ilha se apresenta com novos contornos, novos recantos. Acho que deve ser impossível enjoar ou cair na monotonia. Parece sempre que os sítios se vestem de forma diferente todos os dias para nos receberem.

Aterrei em São Miguel, uma ilha verde com 759, 41 km2, melhor, não é a ilha verde é a ilha dos melhores tons de verde que a natureza pode pintar.

Mal cheguei mergulhei na cidade.

As portas estavam abertas de par em par para nos receber. São um símbolo de defesa terrestre da cidade. Foram construídas em 1783 a leste da cidade e desde 1952 foram levadas para a praça de Gonçalo Velho Cabral.

A cidade sabe receber, boa comida, pessoas calorosas. E uma marina que nos enche os pulmões de maresia.

Para calcorrear a ilha, o melhor é alugar carro. É fácil. Há muita oferta, que começa logo no aeroporto. Há opção de sair do aeroporto em mini-autocarros que nos deixam bem no centro da cidade.

Percorrer as estradas da ilha não é de todo difícil. Fala, a pessoa mais desorientada à face da terra! Nunca nos sentimos perdidos. Em primeiro, estamos sempre a descobrir paisagens de cortar a respiração. Em segundo há placas por toda a ilha. Por último, mas não menos importante, há a hospitalidade daquela gente. Basta pedir indicações aos locais e estamos com o melhor GPS do mundo.

A minha rota passou essencialmente em picar os pontos obrigatórios. Para ir ver a famosa Lagoa das Sete Cidades importa seguir em direção ao miradouro Lagoa do Canário. Sim, as lagoas são de facto azul e verde, não é filtro de insta. Sim, atenção ao nevoeiro. A minha primeira incursão foi um fail. Sendo eu obstinada, claro que voltei mais tarde e… UAU, lá estava toda a vista imponente. É possível entrar com o carro no miradouro. Por favor não façam, deixem no estacionamento e caminhem, aproveitem para respirar aquele ar, de certeza que dá anos de vida.

Há outro miradouro com vista para a Lagoa, é o miradouro da Vista do Rei, está a 251 metros de altura. Atrás deste, está o hotel Monte Palace, abandonado. Se tiverem coragem podem entrar e subir. Eu subi e os terraços dão uma excelente vista, mas não dá a tranquilidade essencial para apreciar. Senti que estava a invadir uma propriedade privada….

Depois da adrenalina da subida ao hotel. Segui para o miradouro da Lagoa do Fogo, a segunda mais alta da ilha. Está localizada na Caldeira do Vulcão do Fogo e teve poucas intervenções humanas, conservando muito da sua fauna e flora ainda selvagem (clap, clap). É uma lagoa importante para a região devido ao abastecimento de água potável e é um dos principais cartões postais da Ilha de São Miguel. Há imensos trilhos que nos levam até ela. Como tinha pouco tempo fui de carro. Amei. Quando cheguei apetecia-me abrir os braços e abraçar de forma sôfrega tudo o que via e me envolvia. Conhecem a sensação?

Depois de tanta lagoa apetece mergulhar em águas açorianas. Estávamos em dezembro, certo? Nos Açores, não há problema!

Caldeira velha. No meio da natureza água naturalmente aquecida que chega aos 38 graus do melhor que há. Na infância os verões sempre tiveram banhos de tanque e de mangueira, imaginem no inverno puder fazê-lo sem os arrepios de pele! Nem imaginam quando tirei a malha e fiquei apenas de fato de banho em água quentinha no meio de um verde imponente, senti-me renascida. Há balneários para se trocarem e pagam 1 euro de entrada para ajudar a conservar o local.

Não ficamos por aqui no que a banhos diz respeito. Temos as piscinas naturais que se avistam do miradouro da Ponta da Ferraria. Mais do que ver temos mesmo de descer e mergulhar. O calor das rochas aliado à água do mar, tornam o local único. As piscinas naturais de água quente chegam aos 30º graus e dão muita paz e tranquilidade, impagável. Se googlarem hoje, estão a marcar voo para os Açores já amanhã. Tenho a certeza.

“Ponha aqui o seu pezinho, devagar, devagarinho se vai à Ribeira Grande” cantava a música popular açoriana referindo-se à segunda cidade de São Miguel. Se no passado se ia devagarinho até à Ribeira Grande, hoje chega-se num instante. A partir de Ponta Delgada, na costa sul, são cerca de 15 quilómetros em auto­estrada. Uns 15 minutos de carro. Comer bom peixe é por ali. Uma cidade simples com comércio local e uma arquitetura deliciosa. Recebem-nos com os seus arcos que suportam a ponte junto ao oceano moldando uma vivência pacata e que nos faz perder no tempo. Por lá, temos o jardim botânico, os Paços do Concelho que são do século XVII e a Igreja da Nossa Senhora da Estrela.

Outros pontos importantes o Salto do Cabrito. Uma cascata que se impõe bem do alto, para nos lembrar a nossa pequenez. Fui num ano de escassez de água pelo que não vi todo o seu esplendor, mas do que vi, fez-me lembrar que temos todos de trabalhar para preservar o que existe. Quero puder mostrar este cantinho aos meus filhos! Tenho a firme certeza que ficou muito por ver, mas cada dia ficou marcado pela certeza que estava a viver a natureza, a tradição. Acima de tudo que estava a viver um dos locais mais bonitos do mundo.

Ah, falta falar sobre a paparoca! Bem, para comer, isso nem vos deve preocupar. É um dois em um dão um salto à Caldeira das Furnas onde se desenham buracos no solo quente. Buracos recheados de panelas vedadas que acolhem todos os ingredientes e os cozinham lentamente, com o calor da própria terra. Esta iguaria é uma das experiências indispensáveis de quem visita as Furnas. Os pratos, à base de carne ou peixe, principalmente o bacalhau, são cozidos lentamente, durante horas, o que acentua e ressalta o sabor. E claro o famoso cozido! Quando regressarem tragam um saquinho de bolos lêvedos assim trazem uma recordação para sentirem os Açores no sofá de casa.

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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