A minha besnica faz 17 anos

A minha besnica faz 17 anos.

Todas as de amor são ridículas sobretudo as que as mães escrevem às filhas e esta não vai ser diferente.

Eu podia falar sobre o amor e admiração que sinto por ela mas não ía ter tempo suficiente, o verbo ia-me faltar – é que há coisas que não são descodificadas por palavras e letras. É como aquela paisagem de tirar o fôlego que queremos captar com a câmara do nosso telefone mas a tecnologia não chega, não acompanha a intensidade do momento. Assim é a forma como a sinto e vejo.

Vou focar-me em coisas tão simples como o facto desta miúda, desde pequena, ser o ser humano que mais me faz rir. Rir às gargalhadas, descontroladamente, com as coisas que diz, a forma como observa o mundo, os retratos que faz dos outros e de si própria.

É com ela também que tenho conversas profundas sobre o amor e a morte, sobre expectativas e desilusões, sobre o mundo que queremos e o que podemos fazer para o transformar. Vê-la crescer cada vez mais livre e cheia de personalidade, procurando as pessoas que a fazem questionar-se, evoluir e crescer mais, procurando o conteúdo para lá da aparência, valorizando a vulnerabilidade, a honestidade, a originalidade e a verdade – e não se deixar aprisionar pelos estereótipos daquilo que “deve ser” uma adolescente de 16 anos, faz-me sentir muito orgulhosa.

Este ano a minha querida filha perdeu, em circunstâncias trágicas, uma grande amiga.

A Isa tinha 16 anos e era suposto a Isa e a Leonor dançarem pela vida fora.

Aos 16 anos, a morte não existe – ou não devia existir. Mas apanhou-nos e foi avassalador.

Foi a primeira vez que o meu colo de mãe não foi suficiente para lhe fazer passar a dor. A primeira vez que não encontrei nenhuma palavra que a reconfortasse – porque não existem.

Sei que pensa na Isa e a chora quase todos os dias mas, mesmo assim, no meio de tudo isto, terminou o ano escolar com boas notas e está neste momento a estudar para os exames nacionais. Eu quero lá saber das notas – não me entendam mal, quero que ela aprenda coisas e seja feliz nessa aprendizagem – mas quero, sobretudo, que seja feliz muito para além desta ideia fixa e tóxica de sucesso como objectivo último e determinante, que tanto angustia as novas gerações. Determinante? Determinante é seguirmos os nossos sonhos e que os nossos sonhos passem por ajudar outros com menos possibilidades, a seguir também os seus. Isso sim, dá sentido à vida – e não se aprecia numa pauta, num teste semestral ou num exame.

Eu olho para ela, uma pequena pessoa em construção, já na luta da vida e comovo-me. Para mim ela será sempre a minha besnica pequenita e malandra, dos olhos enormes e nariz empinado.

Gostava que arrumasse mais o quarto e que me atendesse prontamente o telefone. Gostava que se sentasse mais vezes ao meu colo e que me deixasse encher-lhe o cabelo de tranças.

Mas isso sou eu que sou uma mãe mimada de uma filha mimada por mim. Merecemo-nos muito, essa é que é essa.

Este texto desajeitado é só para dizer ao mundo, mais uma vez que te amo sardanisca.

Parabéns, meu amor.

Rita Ferro Rodrigues

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5 comentários em “A minha besnica faz 17 anos

  1. Tão lindo quanto comovente!
    Que seja uma felicidade premente nas vossas vidas.
    Beijinhos nos vossos lindos corações.

  2. Rita e a sardanisca! Texto lindo e maravilhoso, absolutamente real para nos lembrar do que importa, a felicidade e a vida! Parabéns

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