A menina contida
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Era uma vez uma menina que vivia contida. Fora obrigada a conter-se para que pudesse viver e sobreviver.
A menina contida todos os dias ouvia que a contenção seria o que se esperava de si. Nada menos que a contenção.
– A menina não deve chorar, que isso fica mal;
– A menina não faz birra, que isso fica mal;
– A menina não amue, que isso fica mal;
– A menina não gargalhe, que isso fica mal;
– A menina não dê guinchinhos, que isso fica mal;
– A menina não mostre a euforia, que isso fica mal;
– A menina não mostre a tristeza, que isso fica mal;
– A menina não mostre a raiva que isso fica mal;
Desta forma, foi vivendo a menina contida. A conter todas as emoções, porque não ficava bem mostrar o que sentia naquele momento. Ninguém tinha tempo para as suas emoções!
A força estava no controle emocional.
Contenha-se a menina, não incomodem as emoções da menina e a menina viverá contida, mas feliz.
A menina passou a extravasar as suas emoções longe dos olhos dos outros. Passava pelas situações sem demonstrar o que sentia, pois isso ficava mal! Não era esse o papel que esperavam dela. As emoções estavam guardadas para o seu recanto. Quando não tinha tempo para as viver no sítio e hora certa, armazenava cada uma delas, e prometia-lhes um espaço de antena.
Quando a menina cresceu, a vida ficou recheada de mais emoções. Porém, a frase ecoava na cabeça – fica mal! Pensava para consigo que não podia perder o controlo, ficava desnudada se acontecesse. Tinha de se controlar.
O controlo era o seu refúgio, a sua força!
A vida trouxe-lhe mais emoções e menos tempo. Já não conseguia prometer espaço de antena às emoções armazenadas. Quando se dava conta, já estavam amarrotadas no fundo do saco e já não lhes conseguia chegar.
Sussurravam os outros que a menina contida, era forte, que nada a afetava. Por isso, era ela a bombeira de serviço. A ela cobravam as respostas, as soluções a eficácia da ação sem que se olhasse para o esforço que esta fazia!
Sabiam lá eles da fragilidade da menina que todos obrigavam a ser contida!
Nota sobre a autora
O meu nome é Inês Pina.
Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.