A inquilina indesejada

Não nos lembramos de nos termos colocado para anúncio de aluguer ou venda e, no entanto, certo dia aparece à nossa porta uma inquilina indesejada. No início pensamos que fosse temporário, afinal de contas todas as pessoas recebem esta inquilina, mais ou menos vezes, mas recebem. Aceitamos!
Acordamos que a estada seria esporádica e que nós continuaríamos a ser donos de nós mesmos. Até então, tudo bem. O problema é quando ela decide dar festas a horas inconvenientes! Vejamos: quando estamos entre amigos a tomar café, quando vamos no autocarro, já para não esquecer de quando nos estamos a arranjar para ir jantar com o namorado, mas a pior de todas é quando queremos dormir, aí sim passamos noites em claro
porque a inquilina decidiu tomar uma bebida energética e abanar o capacete pela noite a dentro.
As visitas começam a ser regulares e perdemos o controlo total sobre a indesejada.
Instaura-se o medo que ela apareça a qualquer momento e se apodere de nós. É, então, que nos aconselham a visitar um especialista em expulsar a inquilina ou a usar uma espécie de pesticida que provoca o seu afastamento. Finalmente uma boa notícia e brevemente vamos
ver-nos livres daquele tormento!
A consulta com o especialista parece estranha, afinal de contas ele apenas quer conversar connosco em vez de expulsar a Ansiedade de dentro de nós (esqueci-me de referir, mas a inquilina chama-se Maria Ansiedade das Dores sem Piedade) de uma vez por todas!
Explica-nos que os nossos encontros com ele vão passar a ser regulares e que não há forma de expulsar a Ansiedade definitivamente. Diz-nos, ainda, que é possível aprendermos a controlar a inquilina por forma a termos uma vida normal e que, naqueles casos mais extremos, podemos tomar a tal espécie de pesticida para ajudar a adormecer a indesejada.
Aprendemos a conviver com a Ansiedade, que remédio! Ela não é muito bonita e, como já disse, parece-nos assustadora, por isso, às vezes convido-a para uma festa de pijama sobre o pretexto de a maquilhar e torná-la mais leve: Meto uma sombra de humor nos olhos para que o olhar dela não me consuma; Uso o contorno para que quando a vir, saiba também eu contorná-la; Acima da bochecha e ligeiramente abaixo do olho coloco o iluminador para eu encontrar sempre uma luz de esperança; Preencho-lhe os lábios com um batom suave para harmonizar as nossas visitas.
É, então, que passa a existir a linha que separa o que era a nossa vida antes de abrirmos a porta à inquilina indesejada e o depois de conhecer a Maria Ansiedade das Dores sem Piedade!

 

Nota sobre a autora

Joana Gonçalves foi o nome que os meus pais escolheram para mim, assim como 23 anos é a idade que os registos mostram que tenho. Mas quero acreditar que posso ser a Maria hoje e a Helena amanhã, que posso escolher brincar como uma menina de 6 anos ou ter a maturidade de uma mulher de 40 anos. Só a escrita me permite ser tudo e não ser nada, logo é nela que me refugio. 
Transmontana – Licenciada em Ciências da Comunicação – Quer me conhecer melhor? Veja.

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