A agressividade como manifestação de sofrimento

Nos dias que correm assistimos cada vez mais ao pedido de consultas de crianças e adolescentes com “problemas de comportamento”.
Relatos como “ele bate nos colegas…”, não se consegue controlar”…, “não tem regras… é mau” têm sido uma constante e, deste modo, os pais ou figuras de referência chegam-nos à consulta ou ao internamento ávidos por uma resposta que ponha um fim a estas angústias.
Mas o que faremos nós de diferente para que estes quadros possam ser revertidos?
Existem pelo menos dois eixos fundamentais à intervenção, sem os quais não existem milagres – a intervenção centrada na criança/adolescente (com a finalidade de perceber o seu sentir) e, procurar perceber quem são as suas figuras de referência com as quais, em equipa, poderemos articular.
Primeiro com o jovem desmistificamos: não somos mais uma pessoa com quem tem de reprimir sentimentos. Bem pelo contrário. O nosso tempo é o espaço, no qual é permitido que a criança/adolescente “extravase”.
 
E sim, a exteriorização da zanga pode numa fase inicial permitir “murros e pontapés, berros e asneiras” sempre com a regra de não ser permitido ferir a sua integridade física nem a de outrem. Murros na almofada? Porque não? Esta fase é tão importante como a seguinte… dar sentido ao que foi feito… Zanguei-me… bati… porquê? Como posso fazer diferente?
Deixar de bater nos outros para passar a dar um murro na almofada pode ser uma evolução.  E se não houver almofada? Um grito… e daí em diante… sem angústia .
Importante é reforçar sempre que a agressividade da criança/adolescente é apenas uma manifestação de sofrimento. Essa será a segunda fase… a da capacidade de pensar… de dar uma razão, um sentido à sua agressividade.
 
Verdade seja dita… não é fácil e não se consegue isto de um dia para o outro… podemos levar semanas, meses daí ser fundamental o segundo pilar de intervenção – as figuras de referência.
Pais, familiares, professores todos  em linha de consonância nesta intervenção morosa. Se acreditamos que esta criança/adolescente pode mudar, também nós temos de a olhar de uma maneira positiva. Acreditar nessa mudança. 
 

Nota sobre o autor 

Chamo-me André Maravilha, tenho 31 anos e sou Enfermeiro especialista em Saúde Mental. Há dez anos que dedico a minha profissão à intervenção, em internamento com crianças e adolescentes que, por variadíssimas razões, se encontram em sofrimento psíquico.

Em simultâneo com esta paixão, que é a saúde mental da infância e adolescência, escrevo na minha página de Facebook “Agora Piensa”, algumas reflexões pertinentes sobre a área, quer para os jovens quer para os pais.

Gostava que a saúde mental e a sua intervenção em Portugal tivesse outra visibilidade.

 
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