Recém-nascidos felizes: truques fundamentais

Já ouviu falar em exterogestação? Que o bebé quando nasce não nasce preparado para o mundo que o rodeia, sendo necessários pelo menos 3 meses para que ele se organize? Pois é, é disso que vamos falar hoje. O conceito de exterogestação foi desenvolvido por Ashley Montagu, um antropólogo que realçou a importância do “tocar” em todos os aspectos do desenvolvimento humano, mas tornou-se viral pelas mãos do pediatra Harbey Karp, com o seu livro – O Bebé Mais Feliz do Mundo. Neste livro (que recomendo vivamente, com dicas geniais para os nossos bebés!) denominou o período de 3 meses pós-nascimento, como o quarto trimestre. Para o autor, durante este período, o bebe precisa de se organizar/adaptar a vida fora do útero, sendo que este período é crucial que se simule a vida uterina, fora do útero, fazendo uma transição gradual e lenta para a vida extrauterina – exterogestação. Montagu refere que a gestação, de acordo com os parâmetros pelos quais geralmente a compreendemos, não parece estar completada quando se dá o parto, mas prossegue, da gestação dentro do útero – útero gestação – para a gestação fora do mesmo – exterogestação. (Montagu, p.67) Segundo Bostock, “o limite de exterogestação poderá ser estipulado no momento em que o bebé se mostra capaz de gatinhar eficazmente usando os quatro membros (…) o que é mais interessante é que a duração deste período (…) dura exatamente o mesmo tempo que a uterogestação, que é mais ou menos 266 1/2 dias.” (Montagu, p.67).

Se formos observar outras espécies, a espécie humana é a espécie que nasce mais dependente, desprotegida e precisando de cuidados para sobreviver. Temos exemplos dos nossos cães, gatos, cavalos, que já nascem a saber andar, sendo muito mais independentes e permitindo-lhes a sobrevivência. Para justificar este nascimento tão precoce comparativamente com as outras espécies, existe um motivo biológico: com a evolução da postura ereta em seres humanos, a pelve sofreu mudanças drásticas, nas quais o estreitamento do canal de saída pélvico. Deste modo, os bebés nascem antes que o seu cérebro esteja preparado para o mundo, pois, caso contrário, o corpo da mãe não suportaria a gestação, e o parto, dado que o bebé não passaria pelo canal vaginal devido ao seu desenvolvimento/crescimento (e imaginem lá, nós mulheres parir um bebé com uma cabeça tão grande!!!). Deste modo, o bebé para se organizar e adaptar a este mundo exterior, precisa que o mundo exterior seja uma imitação do que conheceu até agora, ou pelo menos que lhe permitam adaptar gradualmente. Para isso, precisa de ser tocado, receber mimo, carinho, de ser carregado ao colo. E não, isto não faz com que os bebés fiquem mal-habituados. Para que possam permitir que os vossos bebés sejam bebés felizes e mal-habituados (acreditem que bebes não podem ficar mal habituados com necessidades básicas para a sua sobrevivência!), e que se adaptem ao mundo exterior de forma saudável, existem algumas dicas úteis que seguem abaixo.

 

1. Amamentação em livre demanda

O que é isto de amamentar em livre demanda? Basicamente é amamentar o bebé quando ele quiser, sem limites de horas (as famosas 3/3h!!!).

No útero, o bebé recebe alimento através do cordão umbilical. Este alimento é recebido durante o tempo todo, sem restrições. Deste modo, quando nasce, ele tem de se adaptar ao facto de não receber alimento pelo cordão umbilical e não precisa do relógio que lhe indique quando tem fome. Assim, é crucial amamentar em livre demanda. (Agora mais a sério: a própria Organização Mundial de Saúde, OMS, recomenda a amamentação em livre demanda e exclusiva até aos 6 meses de vida do bebé).

 

2. Embrulhar o bebé e/ou usar o ninho (Que está tão na moda! E que bem!)

Um bebé dentro do útero está completamente aconchegado, apertadinho e envolvido na placenta, limitando o seu espaço de movimentação.

Deste modo, é normal que um bebé que esteja sempre deitado numa cama com muito espaço se sinta desprotegido, desconfortável e inseguro. Assim, pode optar por enrolar o bebé numa manta (pode optar por usar swadlle, mas com moderação! Esta técnica atualmente sofreu algumas mudanças, devendo-se evitar enrolar as pernas do bebé, para que não permaneçam completamente esticadas e prejudiquem o seu normal desenvolvimento motor).

Colocá-lo no ninho também é uma boa opção, pois é uma espécie de alcofa (original e recente!), que simula uma certa contenção de espaço que o bebé tinha no útero. Automaticamente, o bebé sente-se mais seguro. (Mas atenção: não permitam que passe todo o dia deitado no ninho/cama, isto pode trazer algumas consequências para o bebé, plagiocefalia, já ouviram falar?).

 

3. Simular sons parecidos com aqueles que o bebé ouvia no útero

Dentro do útero, o bebé estava habituado a muito barulho (conseguem imaginar todo o dia o som do coração da mãe a bater, o sangue a passar pelo corpo? É muito barulho para uma pessoa só!). Todos uns 9 meses a ter de suportar este som e, de repente, “xiuuuu, que o bebé está aqui.

Atenção, não estou a dizer para levarem o vosso filho para uma discoteca, pô-lo a ouvir sons nas alturas. Nada disso, devem antes imitar os sons que ele ouvia no útero. Ele sentir-se-á mais organizado e tranquilo no seu ambiente.

Sons fáceis de imitar o útero, serão o famoso SHHHHHH (feito junto ao ouvido do bebé, e tanto mais alto que o seu choro), o barulho do aspirador, secador ou exaustor funcionam muito bem.

Para serem mais tranquilos, cantar as músicas que ele ouvia quando estava na barriga também é uma excelente opção.

 

4. Dar colo

O famoso colo que torna o bebé num viciado assumido de mimo e de maus hábitos!

Na mesma linha de pensamento, o bebé precisa de muito colo. O bebé precisa continuar a ouvir o barulho dos batimentos cardíacos da mãe, continua a precisar de contenção, calor do corpo da mãe e do seu cheiro. Para isso, o colo é a solução ideal.

Através do colo da mãe, do contacto com o corpo dela, o bebé consegue regular os seus próprios batimentos, respirar de forma tranquila e sentir-se seguro, aconchegado.. (por isso eles adormecerem automaticamente no vosso colo!)

Para facilitar o colo (que eu sei que ao fim de 15 minutos as nossas costas reclamam o seu descanso merecido), podem optar por porta-bebés que auxiliam na vossa postura e, não obstante, o bebé adora, poupando as vossas costas.

Estes porta-bebés, ou prática de babywearing, são concebidos de forma a serem ergonómicos e a respeitar a postura do nosso corpo. Quanto ao bebé, ele adopta a posição fisiológica semelhante àquela que tinha dentro do útero. Existem vários modelos que podem ser usados, sendo que, para o recém-nascido, o sling de argolas ou pano rígido são os mais indicados.

 

5. Fazer movimentos repetitivos

Dentro do útero, o bebé está em constante movimento. Quer pelo movimento da mãe, quer por todos os acontecimentos fisiológicos que o corpo humano tem de realizar.

Deste modo, ele precisa destes movimentos, pelo que pode embalar suavemente o bebé com movimentos suaves, tipo baloiço, enquanto o carrega. (Atenção: estes movimentos devem ser suaves e respeitar o bebé. Evitem o síndrome do bebé abanado, que tanto se fala nos dias de hoje).

 

6. Massajar o bebé

Massajar o vosso bebé traz inúmeros benefícios para o bebé e para os pais. Por um lado, promove um maior vínculo com o vosso filho e, por outro, ajuda o bebé a relaxar, a evitar/atenuar as perturbadoras cólicas, promover um maior desenvolvimento físico/psíquico do recém-nascido, entre outras.

O toque/contacto é tão necessário para o bebé como alimento, é uma necessidade básica que os pais devem dar resposta, sem limites, regras, restrições.

Todas estas dicas permitem uma criação com mais apego, com maior segurança para os vosso bebés. Permitam que cresçam saudáveis, felizes, seguros e muito muito mimo… Que bebés mal-habituados são os bebés mais felizes e saudáveis do mundo.

 

Helena Rocha.

Chamo-me Helena Rocha. Tenho 27 anos. Sou enfermeira. Estou a tirar especialidade/mestrado em saúde infantil e pediatrica na Escola Superior de Enfermagem do Porto. Atualmente iniciei o meu projeto “MalHabituado.BabyCare“, na zona de Penafiel, Paredes, Vale do Sousa. Realizo consultas de apoio à amamentação, consultas de apoio a babywearing e dou cursos de massagem infantil (IAIM). Consultas online/domicílio. Presencial (em grupo ou individual). Podem contactar-me pelo email[email protected]

 

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