Armadilha

É quando somos caçulas que levamos a vida a dizer “quando eu for mais velho…” ou “quando crescer vou fazer isto ou aquilo para…”.

É também quando somos pequenin@s que nos dizem que @s que vão se tornam “estrelinhas no céu”.

Talvez o que escrevo não seja para os adultos. Ou quiçá seja, para aqueles que se esqueceram de que um dia foram crianças. 

Algures na versão do Walt Disney do “Peter Pan” ouve-se “Don’t grow up. It’s a trap” (em português “Não cresças. É uma armadilha”).

É uma frase maravilhosa. Recheada de ingenuidade. Mas é também ela repleta de verdade.

Ser crescido é como andar sobre um campo minado. Na constante iminência de que qualquer coisa aconteça, faça “Booom”, e fiquemos chamuscados tal e qual um desenho animado. 

Miud@s, a imagem até pode ser divertida, cabelos em pé e um ar farrusco, mas a sensação, ao pisarmos essas minas, é feia. Dói.

E há diferentes tipos de detonadores. Há aqueles pelos quais esperamos e sabemos que não podemos contornar, tal como existem aqueles que só percebemos que lá metemos o pé quando vamos pelos ares. 

Ambos são uma m****, (não repitam esta palavra na escola), mas ao longo do tempo percebemos que esta é a realidade e não há forma de fugir a ela. É esta a armadilha de que o “Peter Pan” falava. 

Crescer é sinónimo de conquistas, de metas ultrapassadas e de desejosos concretizados. Mas ser adulto é também perder. 

E não é um perder igual a uma batalha do Pokémon ou quando nos vencem a jogar UNO. Porque em qualquer jogo, podemos jogar sempre outra vez. Entender as estratégias e apanhar as manhas do adversário. 

O perder de que vos falo é um caminho sem volta. É o percurso para termos as nossas estrelinhas no céu. 

Gostava de vos explicar, de forma a preparar os vossos corações, que tipo de ferida é esta. Mas não sou capaz. Dói mais do que levar com um bola de basquete na cabeça (e já pensaram no quão grandes são essas bolas?!). E dói-nos por dentro. Dói no coração.

Dói sem dói-dói. Não se vê sangue nem lhe vão poder arrancar a crosta dias depois!

Vão ter de esperar. E sei bem o quão aborrecido é esperar. Mas este tempo é necessário – chama-se luto. E não são só as velhotas que o vestem. Os que ainda não andam de bengala também o envergam, escolhemos apenas não o mostrar.

Podemos ganhar uma estrela no céu, só nossa, em segundos. Tal como podemos premeditar que um dia ela apareça de noite.

Portanto, deixem-me dizer-vos uma coisa, sobretudo àqueles que gostam de jogos (eu sempre fui um terror a jogar fosse o que fosse), se querem ganhar este, há um truque: não deixem nunca nada por dizer. Nunca. Digam “gosto de ti” aos vossos amigos, “amo-te” aos vossos pais, avós e a todos os que acharem que merecem o vosso amor…

Porque, sabem quando as histórias terminam com um “para sempre”?

Não é que seja mentira… Mas por norma, para sempre, é sempre, pouco tempo.

Mário de Carvalho.

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