Será que vamos mesmo mudar?

Ouvi dizer que vamos perceber que os olhares à nossa volta podem conter tristeza e alegria, ao mesmo tempo em que arrumamos na gaveta o plano minucioso de salvação individual, pormenorizadamente desenhado para conseguirmos sair ilesos.

Ouvi dizer que vamos reparar nos sorrisos e nas gargalhadas, enquanto rasgamos algumas folhas de cálculo, feitas do mesmo papel onde pintámos a dourado o topo da pirâmide da verdade que temos como absoluta.

Ouvi também dizer que vamos dar conta que o nossos corações batem todos da mesma forma, independentemente do lugar onde nascemos, enquanto queimamos o livro exclusivo e mágico, com as instruções básicas para nos ensinar a viver para sempre.

Ouvi dizer que vamos abraçar mais, que vamos deixar que o toque faça parte de cada um dos nossos dias, enquanto deixamos cair ao chão o manual do politicamente correto ou do socialmente estratégico.

Afinal, as coisas mais simples já existiam antes do novo tempo chegar. O sol nunca deixou de nascer com a mesma beleza de sempre e o mar nunca deixou de pertencer a quem nunca teve medo de contemplar a sua grandiosidade. Até as estrelas, cujo brilho dizemos agora ser especial, nunca deixaram de espreitar pelas nossas janelas, até mesmo nas noites em que nos deitámos a pensar que os quatro cantos do mundo tinham, em exclusivo, as nossas impressões digitais.

Ouvi dizer que as nossas memórias se reavivaram. As antigas, onde a nossa infância junta uma série de aromas de felicidade constante, de família, de amigos e lugares. Também as recentes, onde foi incluída, quando menos esperávamos, uma grande oportunidade de confirmarmos as coisas mais importantes da nossa vida.

Não sei se terei ouvido bem.

Será que vamos mesmo mudar?

José Rodrigues

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