365 dias da vida de uma família que tudo perdeu, menos a essência…

Sim, faz hoje 365 dias que estava a começar uma nova vida!
Há 365 dias tinha todos os sonhos do mundo em mim, sentia- me feliz, poderosa e com uma felicidade imensa de um novo começo de ano com muitos sonhos e com uma vontade enorme em crescer!
Sim crescer, como EMPRESÁRIA e lutar por um sonho de anos, de uma mulher e mãe, e um desejo imenso dos meus filhos e marido, de ter uma loja e ser independente. 

Aluguei uma loja, fizemos as obras necessárias, mobilámos e investimos em publicidade sem fim. 
Estava tudo no caminho certo, apesar de ser muito ” FORRETA” e “CAUTELOSA”, estava positiva numa nova ERA.
Todas as minhas poupanças estavam ali a ser investidas.
No entanto, passados dois meses de todo este começo de sonho, algo inesperado apareceu, o dito COVID- 19.


No dia 19 de março era a data para abrir as portas ao mundo do meu projeto e mostrar a todos a minha PAIXÃO.
Fazer a tão esperada e desejada inauguração, mas não aconteceu. O governo mandou fechar tudo para evitarmos uma tragédia humana , que acontecia à nossa volta por todo o mundo. 
E assim foi! Inicialmente pensei que seria algo relativamente rápido e que tudo não passaria de um momento menos BOM.  As coisas já não estavam fáceis, pois o meu marido, que trabalhava na área da Hotelaria, tinha sido despedido no finais de fevereiro. Isso já era uma mágoa e algo que me angustiava, pois com 52 anos infelizmente já somos ” VELHOS” para trabalhar, mas muito “NOVOS” para nos reformarmos.

Mas as coisas iriam recompor-se, esperança nossa! PROIBIDO DESANIMAR eram as palavras de ordem dos nossos dias.
Com o marido desempregado, eu tive que “fechar” a loja que, não chegou sequer a abrir, e as três crianças vieram para casa em telescola.
Os primeiros dias até corriam serenos, com uma força incrível que tudo iria dar a volta e iríamos ficar BEM, mas o tempo começou por se tornar o nosso inimigo número I.
A angústia apoderou-se de mim e do meu  marido. As contas e as despesas não esperavam e o dinheiro não entrava em casa de forma alguma e o pouco que havia fugia a larga escala das contas!


Dia 18 de maio abro a loja, como o governo assim o tinha permitido, e aí senti que o MUNDO estava do avesso e já nada seria mais como antes.
O meu marido só receberia o seu primeiro subsídio de desemprego em finais de maio e não dava de todo para aguentar o barco, que já estava a entrar em naufrágio. 
Todos os dias a rotina da família era: eu ia para a loja e a família, marido, três filhos e a gata, ficavam em casa protegidos e eu iria trazer o nosso sustento. “Vamos dar a volta a tudo isto e vamos conseguir, PROMETO”! Tantas promessas fiz à minha família e tudo foi em vão, ninguém entrava na loja e os poucos que entravam viam, falavam um pouco comigo e logo se iam embora.
Passaram dias a fio em que nem 0.01€ trazia para casa. Aí o desespero e o medo instalavam-se cada vez mais em mim.
As necessidades e as dificuldades da família cresciam e não tínhamos como contornar a situação. 

Pedi ajudar para comer e para nada faltar aos meus filhos e já muito eles tinham passado. Foi uma associação que nos ajudou para pormos comida na mesa. Eles foram e são MAGNÍFICOS.  Até uma psicóloga me arranjaram para me apoiar naqueles momentos tão duros.


Em finais de agosto, decido que não posso continuar naquela situação. Falo com o dono da loja e entrego-a em setembro.
Em 4 meses que estive de porta aberta, levei somente 150€ para casa.
SETEMBRO, esse sim foi o mês de todo o real INFERNO.
Entrego a loja ao senhorio, tudo o que tinha na mesma vendi para tentar colmatar as necessidades da família.
Dias depois o senhorio da minha casa, a quem nunca falhei uma renda, disse que precisava da casa para a filha, isso querendo dizer que teria de entregá-la. Iria deixar de ser a habitação da nossa família em plena PANDEMIA. Aí tudo desmoronou e eu perdi o controlo completo da minha sanidade e da nossa vida.

Dia 29 de setembro, o dia do meu aniversário, devia ser um dia de festa. Uma data que eu tanto ansiava. Todos os anos era o melhor dia do ano, podendo mesmo dizer que eu era uma AUTÊNTICA CRIANÇA nesse dia. Este ano não queria sequer que essa data chegasse. Queria que toda a gente que me rodeava não se lembrasse. Eis que acontece a facada final, a minha sogra falece com um cancro, na precisa hora em que eu nasci!


A família já não aguentava mais, estávamos no chão e sem rumo à vista , podendo mesmo dizer que estávamos à deriva. Os dois meses seguintes voaram mesmo, ainda hoje tento lembrar-me como cheguei onde estou e muitas vezes não consigo. Tivemos de entregar a casa onde vivíamos, acabámos por perder toda a nossa condição financeira. Eu tornei-me numa trabalhadora independente sem direito a qualquer apoio financeiro do estado, o meu marido continuava desempregado. Mudámos drasticamente de vida, tendo 2 opções em cima da mesa: ou viver na rua ou viver numa roulote. E assim foi! Viemos para um parque de campismo que nos acolheu de braços abertos, mesmo não podendo.


Vivemos agora numa roulote, dependo das ajudas de terceiros e à espera que toda esta TEMPESTADE passe para sairmos a rua e podermos novamente lutar pela nossa família e por um trabalho que nos dê novamente a FELICIDADE de um dia olharmos para trás e pensarmos que doeu muito, mas já passou. Tudo o que vivemos simplesmente nos tornou mais FORTES!
E assim se passou o nosso último ano de vida.
Obrigado a todos os que nos apoiaram e que ainda nos apoiam. Obrigado pelo carinho que nos deram e continuam a dar, e acreditem, que vocês não têm a noção do quanto isso nos fortalece. 
Obrigado por estarem aí e por terem lido em resumo o nosso último ano de vida.

Grata a quem nos possa ajudar.
Vamos todos ficar BEM ?!

Sofia Dias.

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